2018 NÃO FOI UM ANO RUIM

Última atualização em 06/02/2019. Todos os direitos reservados. Qualquer reprodução deve citar o database como fonte. Site melhor visualizado em desktops e notebooks. Nossa playlist de melhores do ano está disponível no SPOTIFY. Siga o o database no FACEBOOK e INSTAGRAM.


MARIANAA – 1-1 SOL
sdds role lixo (Beira Rio Records)

É difícil selecionar apenas uma faixa deste registro que está fadado a ser eleito o melhor disco brasileiro de 2018. Então, o jeito foi escolher por meio de sorteio. É por causa 1-1 Sol e de outras dez faixas do mesmo nível que o trio de Campos dos Goytacazes em breve vai ter sua biografia publicada no database. Aviso de utilidade pública: qualquer suposta “lista de melhores do ano” sem a presença de sdds role lixo não passa de um postzinho feito por alpinistas sociais alternativos disfarçados de blogueiros.


RAÇA – MELA
Single (Selo Freak)

Faixa meio hip-hop composta originalmente para entrar no terceiro disco do Raça, mas mudaram os integrantes, rolou outra guinada no som e parece que Mela ficará de fora do aguardado Saúde. Nossos estagiários acompanharam os stories das sessões de gravação e garantiram que os beats permanecem e que a tal guinada é um retorno às origens, com vocais gritados que vão assustar os fãs da fase Saboroso.


BAAPZ – VIAJANTE DO TEMPO
Single (Pug Records)

BAAPZ é o projeto solo de Pedro Baptista, mineiro de 23 anos, baixista da banda shoegaze Alles Club e que agora começa a mostrar sua vertente eletrônica em canções que deveriam tocar durante a madrugada em todas as rádios do Brasil. Viajante do Tempo, seu primeiro single, parece uma mistura de Daft Punk, King Krule e Renato Russo chapado de Zolpidem. Outra boa definição veio num tweet de precisão cirúrgica: Vento no Litoral (Air Remix). Previsto para o final do ano, o EP Remoto pode alçar o jovem Baptista ao posto de maior hit-maker de Juiz de Fora, desbancando Filipe Alvim, que ostenta esse título desde 2013. Leia a biografia completa em database.fm/baapz


KASSIN – MOMENTO DE CLAREZA
Relax (Lab 344)

O ponto alto de Relax é Estrada Errada, com participação do próprio Hyldon numa releitura que remete à fase oitentista do George Harrison e, por tabela, aos grandes sucessos do Lulu Santos. Todas as resenhas do disco têm frisado a influência de figurões da MBP, como Marcos Valle e Tom Jobim, entretanto o database sempre preza por tirar uma comparação inédita do sovaco: Momento de Clareza, Paisagem Morta e quase todas as demais faixas funcionariam no tracklist dos primeiros álbuns do Frank Jorge.


GOLDENLOKI – PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Burger Records Latam Vol. 3 (LATAM)

Diferente de outras bandas da famigerada onda neo-psicodélica, as (três!) guitarras da goldenloki não têm os dinossauros dos anos 60 e 70 entre suas principais referências. Faixas como NODRAMA conectam o quinteto a uma linhagem que começa com Velvet Underground, passa por Sonic Youth e Stereolab até chegar a nomes contemporâneos como Ulrika Spacek. Meio Boogarins, meio Séculos Apaixonados, Primeiras Impressões representou o bairro Pacaembu numa coletânea da LATAM, gravadora subsidiária da Burger Records voltada para a América Latina.

[Disponível apenas no Spotity]


ALLES CLUB – QUANTO TEMPO
Single (Pug Records)

Desde 2013, quando a duplodeck entrou em hiato, Rodrigo Lopes tem sobreposto camadas de guitarra e agregado colaboradores em sua missão de resgatar canções esquecidas e compor material inédito para o primeiro álbum da Alles Club. Quanto Tempo foi rejeitada pela duplodeck e agora ressurge envolta por uma atmosfera shoegaze que não compromete a sequência de sétimas melancólicas do Clube da Esquina presente na versão ensaiada em 2001. Recomendado para fãs de Yo La Tengo, Slowdive e Sigur Rós. Polêmica: em entrevista exclusiva ao database, um dos autores da canção relevou que o final apoteótico à la Mogwai foi plagiado de um clássico do Roberto Carlos. Leia a biografia completa em database.fm/allesclub


JONATHAN TADEU – NOME SUJO
Sapucaí (Geração Perdida)

Mais uma vez, tivemos que recorrer ao sorteie.me para agilizar a escolha de uma faixa. O processo seletivo contou com a supervisão de auditores externos da Inhamis, empresa que também foi responsável pelo layout do database. Sapucaí, assim como boa parte do catálogo da Geração Perdida, reforça um contraste que nos faz perceber o quanto são fúteis as letras das bandas espalhadas por esse brasilzão. Nas palavras de Jonathan, trata-se de “um disco sobre amor e amizade em tempos de desespero”.


GUMES – FALA MAIS
bb EP (Pug Records)

Gumes é o encontro de Lucas Tamashiro, ex-guitarrista do Raça e Ombu, com três integrantes da goldenloki, que é considerada o Ulrika Spacek do Pacaembu. A sonoridade não é shoegaze, neo-psicodélica, lo-fi e muito menos rock triste. Então, na falta de tags genéricas, fica temporariamente estipulado o seguinte verbete: a Gumes é apenas uma banda que cria brisas à paisana para fins terapêuticos. Fala Mais encerra o EP de estreia bb, que tem rendido comparações com Pavement, Polara, Terno Rei, Yo La Tengo, Yuck, American Football e até Mac Demarco. Leia a biografia completa em database.fm/gumes


LÊ ALMEIDA – UM IDIOTA
Amenidades (Transfusão Noise Records)

Fake news têm espalhado pela web que Lê Almeida foi do shoegaze para o kraut e que Amenidades reúne outtakes inéditos de todas as fases de sua carreira solo. Não é bem assim. As gravações presentes no disco começaram em 2009, ano de lançamento do REVI, EP que foi um divisor de águas na trajetória da Transfusão. Nem tudo é inédito, e algumas canções foram inicialmente compostas para projetos paralelos. Esse lançamento encerra um ciclo na carreira solo de Lê Almeida, que agora pretende trilhar caminhos mais experimentais, sem tantas guitarras e pedais de distorção, conforme informado nesta boa entrevista concedida ao Monkeybuzz.


SHOWER CURTAIN – MARIPOSA
Mariposa EP (Everything Blue Records / Pug Records)

O EP de estreia da curitibana Victoria Winter traz faixas gravadas em fita cassete e conduzidas basicamente por voz e violão. Versando sobre sonhos, melancolia, esperança e outros sentimentos que flutuam pelo quarto da jovem, são 11 minutos de bedroom pop em sua forma mais pura. Entretanto, para os insensíveis, incluindo os avessos a gravações lo-fi, Mutual e a faixa-título Mariposa são apenas o rascunho de um hit.


AVA ROCHA – JOANA DARK
Transa (Circus / Natura Musical)

Esta ainda vai tocar muito nas pistas. Numa resenha assinada por um cara que “acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou”, o Monkeybuzz não forneceu frases que mereçam ser usadas entre aspas por aqui, mas o post acabou inspirando Negro Leo, companheiro de Ava e um dos 40 colaboradores do álbum Trança, a criar um slogan destinado ao blog: “para crianças de todas as idades”.


FILIPE ALVIM & SAMIRA WINTER – CHICLETE
Single (Pug Records)

Se o mundo fosse um lugar justo, Filipe Alvim seria considerado o Michael Sullivan que deu errado. Com participação de Samira Winter, o single Chiclete evoca Strokes, Polegares, Tom Verlaine, espaçonave da Xuxa e outras lembranças de um tempo que não volta mais. O hit é uma prévia de seu segundo álbum, Tudo Pode Acontecer, que foi produzido por Gabriel Guerra e será lançado em outubro. Leia a biografia completa em database.fm/filipealvim


ORUÃ – VITIN
Single (Transfusão Noise Records)

A maioria das resenhas tem se limitado a falar sobre as influências de krautrock, free jazz e afrobeat que coincidentemente também são citadas no press release do trio liderado por Lê Almeida. É aí que entra em campo a humildade do database para frisar o óbvio e assim preencher uma lacuna: ao mesmo tempo em que contempla longas viagens aparentemente inspiradas pelas improvisações do selo Sonic Youth Recordings, o repertório do Oruã é repleto de portas de entrada para um público mais abrangente, como viúvas do Kurt Cobain e tiozões fãs de rock setentista, The Doors, Black Sabbath e afins. Entre os momentos mais herméticos, Anátema é o fio da meada que liga Tortoise a Milton Nascimento. Entre as faixas mais pop, Vitin evidencia já nos primeiros acordes a influência do Nirvana.


ORUARA – ENSINO MÉDIO COMPLETO
Ascendente (Transfusão Noise Records / Quintavant)

Oruara é um desdobramento do conjunto Oruã, que começou como um projeto mais colaborativo em 2016 e, após o lançamento do álbum Sem Benção / Sem Crença, caiu na estrada e assumiu o formato power trio. Preservando o modus operandi do início do Oruã, as canções do Oruara contam com diversos colaboradores e trilham caminhos experimentais que levaram a uma parceria com o selo carioca Quintavant. Não perca a conta: o debute Ascendente é 100º lançamento da Transfusão, gravadora oriunda da baixada fluminense que completa 15 anos em 2019.


MAFIUS – TRÂNSITOS ASTROLÓGICOS
Single (Geração Perdida)

Primeiro single de Matheus Daniel, o garoto prodígio da Geração Perdida de Minas Gerais que está economizando suas mesadas para lançar o EP Teto Preto nos próximos meses. Trânsitos Astrológicos até lembra a faixa Cêdiz, lançada pela Grogues um mês depois, mas as guitarras dos amigos Pedro Flores e Fernando Motta elevam o Mafius a outro patamar. Resumo: um garoto de 17 anos mostrando para os quarentões da velha guarda que é possível ter influência shoegaze sem necessariamente flertar com o white metal.


GROGUES – CÊDIZ
Single (Pug Records)

Durante um mês residindo no Canil, espaço de shows e gravações em Juiz de Fora, Filipe Alvim formou a Grogues com outros moradores da casa e gravou o disco Passar Mal, que será lançado em breve pela Pug Recs. Cêdiz é o primeiro single desta boyband que se autointitula “a banda mais cheirosa de Minas Gerais”.


TREMPES – SANGUE MEU
Impender (Transfusão Noise Records)

Trempes é o projeto solo de João Luiz, baixista do conjunto Oruã. Com o devido lobby, o debute Impender poderia alçar o jovem de 20 anos ao status de “promessa” da “nova música brasileira”, o que mostra o quanto certos rótulos estão mais ligados a círculos sociais do que a questões estéticas. Recomendados para fãs de Helvetia, Homeshake, Ty Segall, Beck e Rodrigo Amarante. Saiba mais em database.fm/transfusao


WINTER – SUNSHINE DEVINE
Ethereality (Everything Blue Records / Balaclava)

Flutuando entre o dream pop e o bubblegum, Ethereality é um cruzeiro do Weezer com a participação de Dinousar Jr, DIIV, Lilys e Best Coast. Baseada em Los Angeles, a banda é liderada pela curitibana Samira Winter, irmã da Victoria, o que justifica a presença de Sunshine Devine nesta respeitada lista de pedradas brasileñas arremessadas em dois mil e dezoito. Falando em Lilys, não deixe de adicionar o clássico www.geocities.ws/lilysweb à sua barra de favoritos.


BOOGARINS – LVCO 4
Lá Vem A Morte (OAR)

Não vamos falar nada sobre os Boogarins porque já tem muito blogueiro sabichão escrevendo a respeito, muitas vezes transformando comentários da própria banda em post, sem citar que tais informações, onde estão incluídas impressões pessoais, foram incialmente publicadas nas redes sociais dos integrantes. LVCA 4 é uma das três faixas bônus da versão expandida de Lá Vem A Morte lançada em vinil pela OAR (Overseas Artists Recordings).


SERENO – AINDA TENHO MEUS SONHOS INTACTOS
Desapegos e Previsões de Morte EP (Violeta Discos)

Apavorados ao serem classificados como rock triste, os irmãos Damazio injetaram mais ânimo em suas canções. Enquanto o registro de estreia parece uma balada do Billy Corgan com arranjos do American Football, o segundo EP evidencia a influência de guitar heros do rock alternativo. Dias começa com um solo que obriga os fãs de Dinosaur Jr a colocar o volume no máximo, Projeções Astrais tem acordes que lembram algumas faixas do Loveless e Ainda Tenho Meus Sonhos Intactos bebe em fontes mais obscuras, como as bandas japonesas Supercar e Number Girl.


VENTILAS – TOESTORI
Brinks EP

O duo ventilas não tem o capital de giro necessário para estar entre os principais nomes do rolê alternativo, mas é uma banda completa, com bons riffs, letras sinceras, repertório consistente e fãs que cantam suas músicas durante os shows. O guitarrista João Marcos e o baterista Matheus Zanetti estrearam em 2018 com o EP Brinks e logo foram alçados ao posto de maiores hit-makers de Sorocaba. Canções como Calejadão, Gameplay e Toestory revelam um passado emo nos dedilhados, influência jazz nos ritmos e semelhanças com Jimi Hendrix, Unknown Mortal Orchestra e Tim Maia.


HOMENINVISIVEL – TOPOGRAFIA CARDÍACA
Formas Negativas EP (Casa da Árvore Records)

Formas Negativas é o registro de estreia do quarteto paulistano homeninvisivel e do selo Casa da Árvore. Oscilando entre o pós-punk e o shoegaze, as faixas são influenciadas por My Bloody Valentine, Ride e principalmente DIIV. Gravado ao vivo, com produção do então baterista Rafael Carozzi (Kid Foguete), o EP tem uma urgência raramente vista nas bandas brasileiras do gênero. Outro diferencial são as melodias em português — talvez uma influência inconsciente que os Superguidis exercem em Vinicios dos Anjos, vocalista, guitarrista, colorado e único remanescente da formação original. Vinicios tem escutado muito Mutantes e Interpol durante a produção do próximo EP, previsto para o segundo semestre de 2019.


ELZA SOARES – EXÚ NAS ESCOLAS
Deus é Mulher (Deck)

Com participação do rapper Edgard, Exú nas Escolas é a faixa de Elza Soares mais próxima da estética de Cortes Curtos, disco solo de Kiko Dinnuci lançado em 2017. Além de coautor da canção, Dinucci é o produtor, arranjador e guitarrista de boa parte de Deus é Mulher. Quando uma lenda do samba lança um petardo que remete ao pós-punk de bIG fLAME e Sarandon, somos obrigados a admitir que, pelo menos no universo da música pop, 2018 não foi um ano ruim.


Todos os textos por Eduardo Bento. Novas músicas serão adicionadas em breve. Primeira atualização em 04/09/2018. Sugestões devem ser enviadas para contato[@]database[.]fm com exatamente 5 músicas, sendo uma de cada artista.