#Heart Of Darkness: Bingo

Posts por Eduardo Ramos e Marcelo Colares. Leia a biografia não autorizada em database.fm/cigarettes. Para você que não sabe do que se trata, comece por essa playlist no Spotify.

Intro

“Evite qualquer irritação, mais até do que a exposição ao sol. Adieu. Como os senhores ingleses dizem, hein? Good-bye. Ah! Good-bye. Adieu. Nos trópicos, antes de mais nada, é preciso manter a calma.” Ergueu o dedo indicador em sinal de advertência… “Du calme, du calme, Adieu”.

No Coração das Trevas, Joseph Conrad. Tradução de José Roberto O`Shea

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A ideia de remixar o ‘bingo’ surgiu em 2017 com o aniversário de 20 anos de lançamento do disco.

Nada é fácil mesmo e não foi possível dar andamento ao projeto naquele instante.

Mas cá estamos, mais velhos do que nunca. Ao contrário do ‘bingo’, que ainda é um jovem adulto de 25 anos.

Muito em breve, vocês ouvirão com assombro as maravilhas que a remixagem foi capaz de operar.

Neste blog, Eduardo Ramos, responsável pela nova mixagem, contará como tem sido a experiência de remixar um disco que ele conhece há 25 anos e pelo qual sempre demonstrou renovado entusiasmo.

Eu contarei, entre outras coisas, como foi gravar o disco.

Rodrigo Lariú também foi convidado a escrever.

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Preciso dizer, é um milagre que eu tenha guardado as fitas onde o disco foi gravado.

Sou extremamente desorganizado com tudo, devo mesmo ter algum ou vários problemas relacionados a isso.

No entanto, tudo o que é importante pra mim, o tempo tem mostrado, estará sempre preservado e ao alcance da mão.

Estultices à parte, hora de mergulhar No Coração das Trevas.

I can’t stay high | I don’t know what I’ve done

O Freezer era o estúdio do Dodô e do Gustavo da Pelv’s que ficava numa sala comercial no térreo de uma galeria na Praia de Botafogo. Tinha sido aberto em 1996.

Embora tivesse uma finalidade comercial, parece-me que ele serviu mesmo, no cômputo geral das coisas, foi para abrigar as bandas que lançavam pelo midsummer madness.

Fora Pelvs e Cigarettes, lembro de cabeça agora, mas certeza que tem mais, Polystirene, Stellar, Kinetkit Ravecamp, Number 4, sem falar no Swallow 5 e na Banda Freezer que corriam ainda mais por fora. São todos nomes que ensaiaram, gravaram e confraternizaram por muitas horas e noites a fio no Estúdio Freezer, naqueles anos do final da década de 90.

Eu passava lá quase todo dia depois do trabalho. Era um ponto de encontro. E lembrando agora, era mesmo isso.

E é engraçada essa percepção no momento em que o envelhecimento avança irremediável.  Perceber que em algum momento da minha existência estive inserido num grupo de pessoas, que se uniam primordialmente em nome de um gosto musical compartilhado e que possuíam um ponto de encontro. Um estúdio de ensaios e gravações, integrado ao interesse difuso pela música que atingia a todos nós.

Claro que isso não teria nada de excepcional. Existem muitos grupos de amigos que se unem em torno da música e têm, não só um, mas, diversos pontos de encontro. A diferença aqui é que praticamente todos naquele grupo faziam música, gravavam, no mesmo lugar que era o ponto de encontro, e lançavam, todos, por um único selo.

Foi a partir de outubro de 96 que começou a rolar uma conversa de que a Pelv’s gravaria o segundo disco, o primeiro havia sido Peter Greenaway’s Surf, em 1993, lançado pela Rock it!. Agora com o estúdio próprio, seria mais fácil. O selo do Rodrigo Lariú, midsummer madness, que lançaria.

Seriam os primeiros lançamentos em CD do midsummer: o segundo da Pelv’s e o primeiro do Cigarettes.

Ao que consta, a distinção se devia ao fato de ter sido, o Cigarettes, a banda que mais vendeu fitas k7 no selo.

Antes de começarem as gravações, nas primeiras semanas de janeiro de 1997, eu comprei quatro fitas de Super VHS (S-VHS), a fita que era usada em gravações com o sistema Alesys Digital Audio Tape (ADAT).

Fui numa loja no segundo piso do Rio Sul e paguei 40 reais pelas fitas. Nada mais eram do que fitas de VHS com uma qualidade supostamente superior à das comuns.

Estávamos ainda no auge do Plano Real, inflação sob controle, um real igual a um dólar, desemprego baixo, FHC seria eleito no primeiro turno nas eleições do ano seguinte.

Havia uma espécie de euforia no ar.

O Brasil havia se livrado recentemente, 1994, do tormento da inflação, que castigava a população há mais de uma década. As pessoas estavam animadas. Achavam até que conseguiriam ganhar dinheiro vendendo discos de Pelv’s e Cigarettes.

Crazy times.

A propósito, lembro-me de um incidente, pra mim, emblemático desse período.

Pouco antes do início das gravações, no Estúdio Freezer não se falava em outra coisa. Mais curioso ainda foi a aparição de possíveis investidores na empreitada.

Um deles, acho que lhe chamavam de Carneiro, não sei se era apelido ou sobrenome. Fazia parte de um grupo de amigos de longa data do pessoal da Pelv’s, conhecido como “Galera de São Pedro”, em referência à cidade litorânea na Região dos Lagos, no estado do Rio. Era lá que essa “galera” se encontrava em finais de semana, férias e feriados.

Carneiro, ao que parece, vinha ganhando dinheiro com transporte coletivo feito por vans na baixada fluminense. Um empreendedor que buscava onde diversificar os investimentos.

Veio me perguntar:

– E esses cds aí que vocês vão gravar, isso vende fácil, né?

Olhei pra ele já rindo e expliquei. Não sem antes pensar como é que ele ainda não sabia o que eu diria.

– Olha, esse som que a gente faz não tem muito público, é muito segmentado.

– Ué, se tem pouco público, por que vocês vão gravar?

Parecia lógico o raciocínio. Pensei, por dois segundos, em falar sobre os sentidos não evidentes da atividade artística. Achei melhor, por fim, dar mais um sorriso e dizer:

– Pois é, a gente faz isso mesmo.

Como se fôssemos loucos ou algo do tipo.

Carneiro achou melhor não investir no “indie carioca”. Problema dele.

Outras pessoas preencheram a ausência de Carneiro, as gravações transcorreram, não sem uma tonelada de problemas, os discos foram lançados e nós, os personagens, ou já atravessamos, ou estamos prestes a atravessar, a barreira dos 50 anos de idade.

Sobrevivemos de alguma forma.

Esse é o momento em que contamos nossas histórias até aqui.

(continua)

Little Puppets (AKA Sweet Smile)

A melhor maneira de se alcançar uma meta é tornar público seu objetivo.

Em algum momento, surgiu a ideia de refazer a mixagem de “Bingo” dos Cigarettes. O impulso partiu, quem sabe, do lançamento de Saturno Wins (2017), último disco inédito da banda, ou por causa das comemorações dos 30 anos do midsummer madness?

O fato é que o projeto precisa terminar em 2022: 25 anos do lançamento do Bingo.

Faz um tempo que as tais “fitas” (ADATs) chegaram pelo Correio. Graças a Deus, o Colares tomou cuidado com o material.

A primeira audição foi um grande choque, algo como adentrar uma máquina do tempo.

Na sequência das luzes, aflorou um medo de lidar com algo tão importante e, ao mesmo tempo, deixar a confortável posição de espectador para trás.

Muita coisa aconteceu desde 1997 e, principalmente, nos últimos 4 anos. No começo de 2022, decidi que iria retomar o projeto.

Na minha cabeça é uma mistura de um disco perdido do Velvet com Apocalipse Now. Por conta do documentário sobre a produção do filme, o título deste blog é “Heart Of Darkness”.

Cheguei a pensar em um comparativo com o livro do Conrad. Alinhar percepções dos anos 90, como uma triunfante ida para Londres, culminando com a assinatura de um contrato com um grande selo independente.

Quem sabe, traçar um paralelo com a história do Colares, e com todos os planos da tour Europeia que nunca aconteceu? Criar uma fábula de que tal jornada seria exatamente a transposição do nosso atrasado mundo para a “civilização”.

Maior besteira.

O que aconteceu nos anos 90 (e nos anos seguintes) foi literalmente o melhor que todos os envolvidos poderiam ter realizado e ponto.

É muito fácil revisar o que aconteceu na época – o que os historiadores chamariam de anacronismo: enxergar o passado com os olhos do futuro/presente.

Tenho interesse zero nesse tipo de especulação. O único propósito deste projeto é o registro.

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Falta-me coragem para lidar com “Lips 2”. Ainda é cedo.

Quando escutei o canal com a voz do Fábio (Nota do Editor: Fábio Leopoldino [1963-2009], guitarrista, vocalista e compositor, com atuação no Second Come, Stellar, Eterno Grito, entre outros) em “Blues” tive uma crise de choro.

Desde que mandei, em janeiro, uma primeira intervenção, uma mixagem suja e rápida de “Sweet Smile”, que eu apelidei de “Little Puppets”, o Marcelo tem tido muita paciência comigo.

Uma mistura de fatores que começa com a pane de um computador, uma apresentação em um festival, que monopolizou meus pensamentos por alguns meses. E, principalmente, certa lentidão da minha parte (idade?).

Obviamente que desde a morte da Bia, em março desse ano, (N.E.: Beatriz Lamego [1973-2022], vocalista, guitarrista, compositora, fundadora do Stellar e das Drivellers, figura de destaque na chamada cena indie carioca dos anos 90) algo foi adicionado a essa equação.

Quando vi as fotos do Stellar e um comentário do Sol (Sol Moras Segabinaze, guitarrista do Stellar e companheiro da Bia) sobre a letra de “Titanium White” no Facebook do Cigarettes, a minha cabeça entrou em parafuso e um verdadeiro terror tomou conta de mim.

Por semanas fiquei assistindo no Youtube aquele vídeo de “Titanium” com uma foto desfocada da banda, em que a única coisa visível é o sorriso da Beatriz.

Decidi retomar o projeto depois de refazer os arquivos e organizar a casa nas últimas semanas.

Naturally Sad (Bruce Springsteen Version)

“Naturally Sad” é, sem dúvida, uma das pedras fundamentais de “Bingo”. A versão original, em sua beleza única, com voz e violão em primeiro plano, um synth no fundo e percussão.

Hoje, o Colares me contou que esta música é resultado de uma sessão rápida que aconteceu em um longínquo sábado, gravada com o auxílio do Alexandre Maraslis, que, na época, trabalhava no Freezer, tecladista de mão cheia, com passagem por bandas de rock progressivo do Rio De Janeiro.

Tenho quase certeza que ele tocou teclados no Kinetic Ravecamp, banda do Sol com a Bia e não sei quem mais; lembro-me de comprar esta fita e ficar intrigado com o som, com ecos de Quickspace / Pram.

Também me recordo de um e-mail sobre o assunto com o Lariú, onde ele relata que o Alexandre vinha de um background de progressivo e achava anacrônico lançar um K7 e não um CD!

Quando abri todos os canais, fiquei surpreso com uma bateria até então nunca apresentada. A tal bateria – bem gravada – estava em dois canais! Até então não tinha encontrado nenhum bounce nestas sessões.

Nesse dia, eu tinha dormido no Freezer de sexta pra sábado. Eu e o Sol, a gente tinha voltado da night de sexta e ido pra lá. O Sol foi pra casa e eu fiquei porque tinha gravação marcada pra depois do almoço com o Alexandre Maraslis. Ele trabalhava no freezer também, era o dono desse Roland (é o modelo mais famoso, aquele piano em Fool também é dele) e tocava numas bandas de progressivo. Um cara legal. A gente ia fazer as músicas sem bateria: Fool, Naturally Sad, Lautréamont e Folk Song, que é a única voz e violão gravada. Só faltavam essas músicas eu acho. Aí a gente gravou tudo e mixou essas três (Fool, Naturally Sad e Lautréamont), tudo na tarde desse sábado. Folk Song eu mixei sozinho depois, numa daquelas sessões clandestinas, nos horários mortos, quando o Sol me emprestava escondido as chaves do estúdio.

Eu perguntei para o Colares a decisão de tirar a bateria e de onde veio o som do baixo (que inicialmente achei que poderia ser um baixo acústico, apesar de nunca ter visto o instrumento em nenhuma gravação do midsummer madness da época) e ele me explicou que: “O Alexandre meio que foi me guiando na mixagem e a gente decidiu deixar ela mais calma, a bateria entrando só em algumas partes e a guitarra também. Foi ele que tocou a bateria, o baixo e o teclado e ajudou a bolar o arranjo que ficou. É tudo do Roland, o baixo também.”

Ainda pretendo retomar esta mixagem e atacar a versão sem a bateria, mais fiel a original. Esta versão com a bateria levou o nome de “Bruce Sprinsteen Version”, quem sabe, porque a música ficou “maior”, quem sabe por causa de um single do The Loft chamado “Up the Hill and Down the Slope”, cujo arranjo inspirado no Bruce, foi um dos primeiros passos para algo mais “polido” na Creation.

Toda hora que esses assuntos relacionados com o passado aparecem, me vem à cabeça o Pete Astor falando que depois de ver o documentário da Creation, a sua impressão era de que a turma toda era um “bando de fantásticos idiotas”.  Algo que ainda ressoa, enquanto lido com esta arqueologia.

Acabei adicionando nesta mix um “arranjo” da versão da Open Field Church, de repetir o “I keep on loving you” no refrão.

Preciso confessar que, na conclusão deste processo, perto do fim da mix para mandar para o Colares, comecei a chorar pensando em tudo que foi descrito acima, de todos esses anos e todas essas experiências.

Outra alma que não está mais entre nós, dessa vez na figura do Roni Corte-Real, o verdadeiro autor da ideia do arranjo do backing vocal, também faz parte desta jornada.

O backing vocal do Seabra junto com o Colares, ambos isolados, é algo absurdamente maravilhoso.

Até a próxima faixa.

I’m Feeling Down I Wanna Die

Nesse instante, vivo a ressaca de um amor mal sucedido. E é tão aborrecido. Esse mal-estar difuso, só quero que passe logo. É mais e menos que a tristeza. Nem triste estou. Só quero que passe logo.

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Deve haver um motivo para que o disco esteja sendo remixado. Pessoas ainda se lembram dele, e me dizem que ouvem, até hoje, com a mixagem original. Mesmo porque nunca houve outra, ou não havia. A sonoridade abafada acabou por ser caracterizada como um “charme lo-fi”.

A primeira mixagem foi um processo atribulado. 

Assim como todo o resto.

Os donos do Freezer, o estúdio onde gravamos, eram Dodô e Gustavo. Ambos meus amigos, Dodô ainda era colega de faculdade.

Gustavo seria também o produtor do disco da mesma forma que nas “demos”. Mas não foi bem isso que aconteceu.

Nessa época, o núcleo duro da Pelvs, Dodô e Gustavo, estavam motivados por algum tipo de deformação ideológica. Depois do primeiro disco, Peter Greenaway’s Surf, repleto de ruídos e feedback, entraram numas de guitarras limpas, violões, vocal na frente, uma espécie de ressaca, olha aí, do barulho.

E era o meu primeiro disco. Eu queria muita guitarra na frente, microfonia, vocal soterrado, daquele jeito.

O conflito era inevitável. E assim foi.

As gravações seguiram comigo querendo montanhas de guitarras distorcidas e o Gustavo buscando uma abordagem mais clean.

Apesar das divergências prosseguimos juntos até o início da mixagem. Quando sentamos para mixar algumas músicas o caldo entornou. Nenhuma briga ou grande discussão. Fizemos as cinco primeiras músicas e a participação do Gustavo encerrou-se por ali.

Soube que ele comentara com alguém: “pô, o Colares não aceita nada do que eu falo”. A partir daí, percebi que eu teria que terminar a mixagem sozinho.

Nesse primeiro dia de mixagem, em que o Gustavo ainda estava, eu havia chamado também o Fábio Leopoldino, pra dar uma força. Quando atacamos ‘Junk’, aquele solinho de duas notas que aparece na música no meio e no final, foi um dos pontos  de discórdia. Eu queria que aumentasse. O Gustavo achava que ia abafar a bateria.

Eu: Tem que aumentar essa guitarrinha

Gustavo: Mas aí vai abafar a bateria.

Fábio: E daí? A guitarra tem que ficar mais alta.

Gustavo ficou contrariado. Fizemos mais duas músicas e ele nunca mais mexeu no disco.

Gente, eu tinha 23 anos, o Gustavo, 22. Não estávamos propriamente no terreno da maturidade.

Sei que já era maio de 1997, daí a pouco teríamos que mandar a master pra fábrica.

Percebi que teria que dar meus pulos se quisesse terminar tudo em tempo.

Cheguei pro Sol, que também trabalhava no Freezer, e perguntei se não tinha como me emprestar as chaves dele pra eu terminar de mixar o disco. “Você vai mixar sozinho?” “É, vai ser o jeito.”

Já havia tentado combinar com o Gustavo ou com o Dodô. Mas simplesmente não rolava.

Eu já tinha acompanhado a mixagem nas duas fitas do Cigarettes, ‘Felicia’ e ‘Brazil’s Sad Samba”. Ou seja, meu conhecimento era nenhum ou inexistente.

Mas vamos lá! Não tem como ser muito difícil. Equalização, compressão, volume. Beleza! Moleza.

Claro que estava longe de ser simples assim. E eu passei um aperto.

As chaves do Sol me davam acesso às horas mortas do estúdio. Eu tinha que chegar e sair quando não tivesse ninguém por lá. 

Aí chegava domingo 11 da noite e saía segunda meio dia.

Eu me guiava pela agenda do estúdio e arriscava. Se aparecesse uma visita surpresa, problema.

O tempo era corrido. Ainda restavam 15 músicas, entre as que ficaram de fora e as que acabaram saindo. Música para UM cacete. E alguém que nunca tinha operado de verdade uma mesa Mackie antes.

O que eu fiz foi colocar a música pra tocar, ir regulando os volumes, equalizar alguma coisa, um efeito ou outro, até que ficasse mais ou menos passável para os meus ouvidos inexperientes naquele tipo de tarefa. Mexia nos botões até que chegasse nesse ponto de passabilidade e pronto. Não havia mais tempo.

Não foi que eu tivesse resolvido: “Sou muito louco e vou mixar esse disco sem ter ideia do que estou fazendo”. Não, eu fui forçado pelas circunstâncias a agir assim.

E foi por isso que a gente achou que seria uma boa ver como ficaria se o disco fosse mixado de verdade.

Ainda bem que eu guardei as fitas.

Certo dia, Dodô e Gustavo descobriram o esquema das chaves do Sol. Só riram. Éramos, somos, amigos.

O charme lo-fi da mixagem original permanecerá pra sempre em nossos corações.

Conversa rápida por email sobre linguística do futuro

Eu

viu isso?

https://www.instagram.com/p/CDzuWC3n9bl/ (cover de The Beauty of the Day)

Amigo

Caralho

Que demais.

Esta letra é uma obra prima do minimalismo. Sério.

O Lens Lekman me falou que as pessoas que não falam inglês nativo têm um approach diferente da linguagem e eu realmente acredito que vc tem o dom. Fora do Bingo, “Lightining Bolt” para mim é o grande exemplo.

Eu

E sobre esse lance do inglês, essa apropriação de uma língua e a transformação dela numa outra coisa que não é o inglês convencional mas que é gradualmente cada vez mais compreendida por mais gente, já pirei muito nisso, e ouso dizer que é uma coisa do espírito do tempo, nesse caso até à frente do tempo, digo isso sem nenhuma empáfia, já que isso aconteceu/acontece comigo de maneira praticamente espontânea. Em algum tempo, acredito, as pessoas não estranharão mais esse tipo de coisa.

Amigo

AH concordo.

Você tem razão.

Entrevista

Entrevista por email concedida a Rafael Mantovani em dezembro de 2021.

Mas algumas coisas que me vêm à cabeça: Cigarettes é uma monobanda? Você é o Trent Reznor do Cigarettes? Se não for, como é? A composição é em conjunto?

Imagino que essa seja uma das respostas que você já encontrou. Mas então, não me importo de explicar. Olhando hoje, depois de todo esse tempo, tantas pessoas que já tocaram comigo, a última vez que eu contei passava de 50, acho que dá pra dizer que é mais um trabalho solo, principalmente em termos de composição. Mas quando comecei eu nem pensava nisso, só queria tocar as músicas que eu fazia.

É claro que cada pessoa que toca comigo acaba deixando algum traço pessoal, alguma singularidade, algo próprio, mas que ainda assim não caracterizaria uma parceria na composição. Friendship, por exemplo, a linha de baixo, que eu acho muito boa, é de autoria exclusiva do Tito, que tocava baixo na época comigo. Nessa época funcionava meio que como uma banda, foram dois, quase três anos com o Tito no baixo e o Wilson na bateria. Assim como o solo de baixo que tem no início e no meio da música é coisa do Gustavo, que produziu e mixou comigo parte do Bingo, até Happiness, depois a gente divergiu de como deveria ser o disco e eu acabei mixando o resto sozinho.

A versão de Friendship do disco não é a mesma do clipe. Por quê? Aliás, você podia falar algumas coisas daquelas imagens?

A versão do clipe tá na segunda, ou terceira, dependendo de como se conta, demo, Brazil’s Sad Samba. Deixa eu explicar isso direito. É que a primeira coisa que eu gravei foi uma fitinha cujo título era Foolish Things and Blah Blah Blah, em 1994, gravei num duplo deck, que nem era meu, com um casiotone, que era meu, um microfone e um violão com cordas de nylon. Isso foi no início de 94. Eu lembro que eu fui na casa de um amigo meu que tinha um aparelho de som com duplo deck. Já respondendo um pouco a próxima pergunta, eu estava em Itaperuna, onde estou agora, que é uma cidade do noroeste fluminense, muito quente, e essa é a característica mais evidente. 

E nesse dia da gravação era janeiro, ou fevereiro, verão, muito calor numa cidade que é normalmente muito quente. e eu tinha que andar uns dois quilõmetrios até chegar a casa desse meu amigo, que nem era alguém do rock, era só alguém que eu conhecia e de quem eu ia usar o duplo deck pra gravar minha primeira demo. Eu não tinha carro, não tinha linha de ônibus que passasse lá, tinha que ir a pé. E eu ia umas duas da tarde, sol a pino, um dia de semana, carregando um violão pendurado nas costas, o casiotone na caixa e uma mochila com o microphone e umas fitas, as pessoas na rua meio que olhavam curiosas pra mim, era meio incômodo, na metade do caminho eu pensei em desistir, mas decidi continuar, chegar na casa do amigo e gravar as coisas que eu tinha pra gravar. Eu ainda não trabalhava e estava em Itaperuna porque era período de férias na faculdade.

Mas agora voltando. Essa fitinha que eu gravei nessas circunstâncias foi a minha primeira demo, foi por causa dela que eu viria a gravar outra fita, a Felícia, com os caras da Pelvs, o Dodô e o Gustavo. Mas isso já é outra história. A versão de Friendship tá na segunda ou terceira demo, dependendo de como se conta, que se chamava Brazil’s Sad Samba. O clipe foi feito antes do ‘bingo’. Acho até que a versão do clipe é melhor do que a que tá no bingo.

As imagens. Talvez seja longo pra explicar o que é aquilo. Mas vou tentar. São imagens de super 8 feitas pela família que era vizinha da casa onde eu morava na infância. Mas como essas imagens foram parar comigo? Pois é.

A maior parte das imagens é aqui de Itaperuna. Mas tem o Cristo no Rio, umas praias que ficam aqui perto. 

Éramos vizinhos quando essas imagens foram feitas. Era um casal com três filhos, que aparecem nas imagens, e eu era amigo deles. Eu também apareço nas imagens segurando um coelho, numa festa de aniversário. O pai deles, já falecido, era advogado e fez concurso pro ministério público, foi ser promotor em Nova Friburgo, pra onde eles se mudaram. Eu ia pra casa deles em Friburgo nas minhas férias escolares, eles também gostavam de música, a gente ouvia muito legião, mas também beatles, led zepellin, smiths, muita coisa, 12, 13 anos de idade. 

Acabei perdendo contato, fui reencontrá-los no Rio, anos depois. Acabei morando com eles, numa república, eu estudava e já trabalhava num jornal. Morando com eles, um dia aparece uma fita vhs com essas imagens em super 8. Eu pensei: é claro que vou fazer um clipe com isso. Mas não falei, não pedi, eles sempre iam pra Friburgo no final de semana e eu ficava lá. Peguei a fita, eu e o Haroldo, amigo de faculdade, que também tinha feito o clipe de lips 2, fomos pra casa do Nilson, Nilson Primitivo, que depois acho que fez um clipe pro Los Hermanos, O Barco, ou algo assim. Passamos uma tarde, noite, madrugada de sábado na casa do Nilson montando esse clipe. Ele tinha uma ilha de edição de corte seco, 1996. Aí a gente foi montando, pegava umas coisas de vhs que a gente tinha, que o Nilson tinha, coisa que tava passando na tv, foi muito legal fazer esse clipe.

E a propósito disso: de onde você é no Rio?

Eu nasci em Alegre, uma cidade também pequena, no Espírito Santo. Vim morar em Itaperuna, já no estado do Rio, quando eu tinha uns três anos. Meu pai era engenheiro agrônomo, ainda é, mas tá aposentado, e fez um concurso pra Emater Rio, uma autarquia estadual. Aí mudamos pra Itaperuna, onde meu pai ia trabalhar. Isso deve ter sido em 76, 77. Aos 17 anos, 1991, fui morar em Niterói. Fui pra fazer faculdade de jornalismo. A faculdade era no Rio, então todo dia eu pegava barca ou atravessava a ponte Rio-Niterói de ônibus. Até que em 1993 eu fui morar no Rio mesmo, em Botafogo, pertinho da faculdade, dava pra ir andando, foi um alívio. Fiquei de 91 a 99 fora de Itaperuna, uma parte em Niterói, menor, e a maior parte no Rio. Tive que voltar pra Itaperuna em condições muito desfavoráveis.

Aquela história da turnê pela Europa que foi cancelada na última hora, eu fiquei muito deprimido. Já tinha saído do jornal onde eu trabalhava, totalmente perdido, acabei tendo que voltar pra Itaperuna.

Mas me recuperei e acabei ficando. Fiz concurso pro Banco do Brasil e trabalhei lá doze anos, pedi demissão em 2016. Hoje tenho muitos gatos e cachorros, o que torna uma mudança pra outra cidade no mínimo mais complicada.

Quem é a moça que canta em Gap? O que é aquela letra?

Helena Malbouisson, uma pessoa muito querida, havia morado anos na França, o pai era Físico, cientista, depois ela também fez Física e acho que é uma pesquisadora hoje em dia. Ela cantava em uma banda que se chamava A Lydie, onde eu tocava guitarra, tem umas músicas no youtube, a gente chegou a gravar uma demo e fizemos alguns shows. A banda tinha ainda o Ricardo, que depois virou baterista da Pelvs, e do Cigarettes também. Naquele show no Mancha que tu foi, ele que tocou bateria nas duas bandas. Além do Augusto Malbouisson, irmão da Helena, que era o mentor do A Lydie e depois criou os Acessórios Essenciais, um projeto muitíssimo interessante

A letra são dois poemas do Baudelaire lidos pela Helena. Na verdade tem uma letra em inglês que é bem simples e curta e a leitura dos poemas por cima do que eu canto. 

Os poemas são La Beauté: https://fleursdumal.org/poem/116 e Hymne à la Beauté: https://fleursdumal.org/poem/202 

A que que você deve o sucesso do disco? “Sucesso” vc entende: ter esgotado, ser um clássico do indie…

Claro, entendo muito bem o que você quer dizer com sucesso. E, de fato, nessa minha vida experimental, aquilo em que eu tive mais sucesso foi na minha expressão musical. Ainda que seja um sucesso bem tímido, ainda assim, claro, acho importante valorizar. 

O ‘bingo’ acho que é um disco que eu vinha imaginando no subconsciente desde o início da minha adolescência.   Tem uma pretensão lírica que acho que acaba tocando algumas pessoas. O ‘bingo’ conta a história de um personagem e cada música é um momento dessa história. Penso também que o disco consegue sintetizar, condensar muito do que havia sido produzido até então daquele tipo de música, uma coisa ao mesmo tempo  difusa, que concentra e expande concomitantemente, uma espécie de cristalização. Talvez aqueles que gostam do disco consigam perceber essas coisas, mesmo em um nível inconsciente.  

Agora a pergunta que eu não me chateio se você ignorar solenemente: você começa o disco com “I can’t stay high” se eu entendo bem. Alguma substância ajudou na composição ou na gravação?

Imagina. Claro que rolava, rolava de tudo em vários momentos. Meus ídolos eram o Velvet Underground.

Falando da música propriamente, o que eu imaginava era alguém antes de fazer um show se lembrando de que seria melhor não ficar louco, segurar a onda pra fazer o show. Enfim

Quantos anos você tinha em 97?

23

Quantas cópias foram feitas do disco?

1000

Ah sim, já ia me esquecendo: em 97, quais eram as maiores influências?

Naquela época, assim como é hoje, se alguém realmente quiser, havia muitas bandas. Tinha um pessoal que tava sempre atrás de novidade. Eu acabava descobrindo muita coisa por meio dessas pessoas. Bandas como Quickspace, aka Quickspace Super Sport, Halo Benders, Spoonfed Hybrid. E tinha as coisas mais óbvias, tipo Pavement, Mercury Rev, Stereolab, Teenage Fanclub, Dinosaur Jr. Mas isso tudo já é anos 90. Nos anos 80, antes de eu ir morar no Rio, 80% do que eu fazia, fora escola, era ouvir música. Gravava discos dos amigos, comprava, quando dava, discos pelo correio, ouvia um programa de rádio chamado Novas Tendências, isso antes ainda da MTv, antes do lado b, na época da bizz, que sem dúvida tinha uma grande influência pra mim. Muito Smiths, JAMC, Joy Division, New Order, Cocteau Twins.

Mas o que eu ouço no Bingo, principalmente, não necessariamente nessa ordem e sem nenhuma escala de grandeza, é Pavement, The Smiths, Yo la tengo, JAMC, Dinosaur Jr. e a sombra do Velvet. Dá pra achar muito mais coisa, mas resumindo é isso.

Queria saber como era a sua relação com a sua cidade naquele momento e, se você não se importar em dizer, saber com o que você trabalha (em uma das coisas que eu li, você fala sobre ganhar a vida).

O poeta Roberto Piva falava que não existe artista experimental sem uma vida experimental. Não que eu seja um artista experimental ao pé da letra, mas talvez, de alguma forma. Sem dúvida, também, com o olhar de hoje, posso dizer que tenho levado uma vida experimental. Sou formado em jornalismo e cheguei a ser repórter de jornal diário por uns quatro anos, talvez cinco, teve um tempo que eu fiz uns freelas também. Mas isso faz muito tempo, entre 94 e 99. Já fiz praticamente de tudo, já consertei computador, montava rede, instalava Linux. Desde que saí do Banco do Brasil vivo de fazer alguns bicos diversos, formalmente desempregado. Até de vez em quando recebo alguma coisa de direito autoral, dá pra comprar cigarro, pagar uma conta de luz, nada substancial, mas todo dinheiro que eu recebo proveniente de música minha me deixa muito feliz. 

Sobre a cidade. não consigo identificar em mim nenhum afeto especial em relação ao lugar onde eu vivo. E na época do ‘bingo’ a relação era de distância, eu ainda morava no Rio.

Ah sim! Outra coisa: eu sou sociólogo, então, eu vou dizer que o indie foi um fenômeno de classe média e classe alta – o que não é nenhum problema… Aí, se você quiser falar sobre como arrumou a primeira guitarra, onde aprendeu inglês (se foi pra fora do país), se teve contato com bandas pra além da MTV…

Claro. E concordo muito contigo. E vou além, o indie é elitista, e, em certa medida, racista. A gente nem se dá conta, mas é uma coisa quase que exclusivamente branca. Não é bem que seja exatamente racista, mas quando se olha de fora é possível ter essa impressão.

Agora respondendo, minha primeira guitarra ganhei de natal, quando eu tinha 11, 12 anos. Era uma Magnus, uma marca muito vagabunda. Antes eu tinha um violão giannini, que foi o instrumento onde eu aprendi a tocar, se é que aprendi. Eu tinha um amplificador improvisado com uma caixa de som dessas de carro de som e uma espécie de capacitor que ligava nessa caixa e plugava a guitarra nesse aparelho. E também um pedal overdrive e um wah-wah, tudo nacional, bem precário, mas eu adorava. 

Sou autodidata no inglês. Nunca saí do país. 

Contato com bandas você diz bandas brasileiras ou bandas em geral, se eu conhecia bandas mais desconhecidas?

Bom, uma ou outra, a resposta é sim. A gente sempre encontrava pessoal de outras bandas, até que a gente viajava bastante, pras características da banda, em São Paulo a gente ia direto, vários shows, Nordeste, Brasília, Paraná, era como dava pra ser, meio perrengue, mas rolava umas coisas legais. E quanto ao que pode ser a outra questão, de conhecer bandas além do que rolava na mtv, sim também. Havia uma grande circulação de informação entre esse pessoal que se conhecia pelo som, e era uma coisa extremamente filtrada, muito específica, tipo o post rock da kranky records. 

Acho que você meio que perguntou isso também. Nunca fui rico, minha origem é classe C, por uns cinco anos quando eu fui gerente de contas no bb, talvez eu tenha chegado a classe B. Acabei abrindo mão de ser gerente, entreguei a função comissionada porque era uma pressão absurda e voltei para o cargo inicial, daí a três anos eu pedi demissão. Mais dinheiro nem sempre quer dizer que é melhor. Sou classe média, o que na verdade quer dizer pobre.

UPDATE (Após as primeiras respostas, recebi outro email pedindo um complemento a algumas delas)

Minha nossa, as imagens não eram suas e você não pediu!! hahahaha! eu te mataria.

Mas você não diz: a família não soube nem depois, sabe hoje? Disse alguma coisa?

Pois é, engraçado mesmo. O que eu fiz foi mesmo um absurdo. Totalmente reprovável. Acho que eu cheguei a pensar na época, antes de fazer o clipe, vai que eu peço e eles não concordam? Aí não teríamos o clipe. Pensei: ah, vou fazer, quase ninguém vai ver isso mesmo. Acredito que eles tenham ficado sabendo, mas não sei ao certo. No final daquele ano, 1996, a república acabou, eles se mudaram, eu voltei a morar sozinho, cheguei a ter contato com eles poucas vezes depois disso, mas nunca tocamos no assunto, nem eles, nem eu. No final acaba que é uma coisa vista mesmo por muito pouca gente. Da mesma forma que a banda, acho que duas mil, três no máximo, conhecem Cigarettes no Brasil. Desse total, acho que quinhentas pessoas conhecem de verdade e gostam.

Quem é esse Tito do baixo de Friendship? (não esqueça que eu não tenho o cd…)

Quando eu comecei a fazer shows as formações eram sempre com o pessoal da Pelvs. Com exceção do primeiro show, maio de 1994, que foi com dois caras aqui de Itaperuna. Em 95 eu decidi montar uma banda. O Tito era colega de faculdade e conhecido da noite, gostava de algumas das mesmas coisas, chamei ele pra tocar. Ele chamou o Wilson, Wilson Power. Os dois são djs conhecidos na noite rock do Rio, até hoje. Eles tocaram na Brazil’s Sad Samba e no Bingo, fizemos um bocado de shows. Mas logo depois que saiu o Bingo, em 98, começou a rolar mais shows, nem sempre eles podiam, aí fui chamando outras pessoas.

Você cita o Halo Benders e o Beat Happening fica de fora. Eu sempre tive pra mim que o Halo Benders era a segunda banda do Calvin Johnson…

 Beat Happening é sensacional, gosto muito, mas acho que não cheguei a assimilar como uma influência. Gosto mais de Halo Benders. O primeiro disco, God Don’t Make No Junk, não tem uma música mais ou menos, é tudo incrível, acho impressionante. Os outros dois são quase assim também, a meu ver.

Aliás, e Guided By Voices?

GBV eu conheci por volta de 95, gosto muito de alguns discos, Alien Lanes, Under the bushes…, Bee thousand, eles lançaram muita coisa. Tem uma entrevista minha no youtube que eu falo um pouco sobre isso, a estética lo-fi, etc.

Aliás, você mencionou a capa (e eu esqueci de perguntar): ela significa alguma coisa?

Significado intencional, proposital, deliberado, planejado com o intuito de passar uma mensagem, não.

MAS tudo diz alguma coisa, né?

Quem fez essa capa foi o Fábio Leopoldino, vocalista, guitarrista, fundador e compositor do Second Come e do Stellar, que infelizmente nos deixou em 2009 com apenas 46 anos. Eu já sou mais velho, já vivi mais do que ele. É curioso que eu me lembro agora de aos 16 anos, pouco antes de eu ir morar em Niterói, onde o Fábio morava aliás, eu me correspondi com ele, por carta, mandei um fanzine que eu fazia sobre o The Smiths. Ele me respondeu e mandou uma espécie de fanzine também, sobre o Second Come, tinha um release, fotos, disse que tava sem fitas da banda senão teria me mandado. Mas eu já tinha ouvido. Aí no texto falava que ele tinha 27 anos. E eu ficava fazendo contas pra ver quantos anos eu ainda tinha até conseguir montar uma banda tipo aquela do Fábio.

A segunda voz em Blues no Bingo é dele.

Sobre a capa ele ouviu algumas músicas, já tinha visto alguns shows nossos também, ele conhecia desde a primeira fita na verdade. Me disse que tinha achado a fita fantástica. Eu só falei como queria que aparecesse o nome da banda, onde, e só. O resto foi tudo ele que criou. Ele era artista plástico também. Uma pessoa muito legal, muito talentosa, de quem sinto falta. Nem tinha contato frequente com ele, mas de vez em quando a gente se falava.

Assunto: Happiness (William Reid)

Eduardo Ramos
Wed, Jul 13, 6:48 AM
to me

Happiness (William Reid).wav

 

Marcelo Colares
Jul 13, 2022, 4:51 PM
to Eduardo Ramos

Tá sensacional! Ficou pesadona, inimaginável. Tá quase punk brasileiro anos 80. Nem imaginava esse approach. Way to go.

 

Eduardo Ramos
Jul 13, 2022, 4:59 PM
to me

foda que eu nem posso escutar o bingo, as vezes eu vou lá só para ter alguma ref muito rápida

esta música tem uma anomalia, ela tem dois baixos gravados… mas os dois juntos não funcionam. até achei que poderia ser alguma coisa mais específica. mas acredito que este é o baixo do disco.

lembro também que esta guitarra solando… ela vem desde o começo da música, mas coloquei ela na hora – que eu lembro – que começa na mixagem original.

acho que esta coisa mais punk – que eu diria mais Pastels / Vaselines / Ramones / Velvet – é pouco na pegada da bateria, a caixa e a levada tá quase Beatles, na verdade Backbeat Band. Lembra daquela trilha?

 

Marcelo Colares
Jul 13, 2022, 5:20 PM
to Eduardo Ramos

Pode crer!

Esse lance dos dois baixos eu nem me lembrava. A guitarra pelo que eu me lembro eu gravei na música toda. Na mixagem original ela só aparece exatamente no meio, depois que termina a primeira parte cantada. Na mixagem que tem na fita Ashtray essa guitarra aparece o tempo todo.

Lembro dessa trilha sim, você tá certo, a caixa lembra bem aquilo, Mr. Postman, era uma superbanda né? Muito bom.

Você quem sabe, você que decide, tranquilamente, mas se você me permite, essa guitarra na hora do solo, podia aparecer um pouco mais, pra dar um efeito de explosão, na parte que fica sem vocal, no meio da música. Única observação que eu faria. Mas tá magnífico como está também, sem dúvida.

Quando você puder e sentir vontade, tenta escrever alguma coisa pro blog.

Essa semana vou tentar fazer a newsletter também.

 

Eduardo Ramos
Jul 13, 2022, 5:27 PM
to me

concordo com o solo.

vou fazer isso

eu até quero ver se dou um turbo nestas passadas para vc escutar e mandar todas as opiniões de mudanças como esta.

o solo vai do começo ao fim… mas fiquei meio assim de colocar no começo. posso fazer uma versão assim para vc sentir, sem problema algum.

aliás o William Reid é por causa desta guitarra

 

Marcelo Colares
Jul 13, 2022, 5:40 PM
to Eduardo

Tranquilo! Acho que a hora que ela entra tá de boa, acho legal o início ser mais calmo mesmo. Eh só mesmo a partir da parte não cantada. Até pra marcar uma diferença em relação ao início. A partir da parte não cantada acho que ela pode ter um ganho.

Nem se dê ao trabalho com as outras músicas, pra mim tá tudo perfeito. Qualquer coisa que eu vier a pensar, te falo pra você avaliar. Mas a princípio o que eu tinha pra falar, já falei. O restante tá irretocável.

Reflexões Ligeiras

Talvez o fato de eu ter feito esse disco – com a ajuda de muita gente, claro – tenha me colocado no centro de uma onda de amor da qual eu, ainda assim, sou apenas uma das partes entre as demais: que são as pessoas que gostam do disco.

Revirar o passado, por mais resolvida que seja sua vida – (e nem estou dizendo que seja o meu caso, longe disso) não é para os fracos de coração.

É um fio que puxa outro, sucessivamente, e você já não sabe onde vai parar.

*******

Quando a ideia de “comemorações do bingo” foi primeiro levantada, eu reagi, devo admitir, com um certo “disgusting”, meio que um nojinho.

Onde já se viu que eu vou me permitir parecer nostálgico a esse ponto? Parecer mesmo, porque ser nunca serei.

Aproveito para esclarecer. Não sinto saudade daquele período no sentido de querer voltar pra lá, caso fosse possível. Não acho que fosse melhor ou pior, apenas era. Da mesma forma que hoje: nem melhor nem pior, apenas é.

Quero viver só no presente sempre. O que é impossível. Mas deve ser um objetivo a ser perseguido. Como uma utopia.

Ou livrar-se de toda a vaidade.

Penso, entretanto, que a tentativa não deve ser descartada de antemão. Mesmo quando é impossível.

Pode-se não viver sempre o presente. Mas é possível viver mais no presente.

Não é possível se livrar de toda a vaidade. Mas se livrar de alguma já é negócio.

*******

Não é que as pessoas estejam ocupando as ruas em manifestações exigindo o relançamento do ‘bingo’. Não se trata de beatlemania. Sabemos bem disso. Estamos inseguros mas otimistas em relação ao sucesso do crowdfunding*.

Quando eu digo que muitas pessoas me perguntam a respeito ou pedem seu lançamento em vinil é óbvio pra mim que não estou falando de multidões. Dez ou pouco mais já é muito.

Agora vamos ser verdadeiramente otimistas e imaginar que para cada uma dessas dez pessoas, existam mais dez que não se comunicam comigo. E dessas outras dez, existam mais dez, progressivamente. Até o limite de mil, que não passa disso. Reduzamos pela metade e teremos quinhentas pessoas.

*******

Considero ser bastante gente.

A maioria que eu nem conheço e que deixa comentários assim:

Parabéns. Realmente é uma obra prima. Alguém garfou o meu cd. Essa reedição será bem vinda e se a master der pra gerar um vinil decente vai ser um presente pra muita gente.

*

Quando rola um crowdfunding para lançar o Bingo em vinil? Na verdade podia ser uma caixa, mas só o Bingo ja coloca ordem na Historia rs.

*

este disco merece uma edição deluxe em vinil!!!

*

cara, esse disco é um dos mais importantes do independente brasileiro. 250 cópias acho que sai voando. O vinil tá em alta, qualquer edição em vinil de qualquer bobagem se esgota rapidamente. Imagina BINGO È UM CLÁSSICO!!!

*******

Para que todos se situem. Inclusive eu mesmo.

*Fazer um crowdfunding não é trivial. É preciso orçar, contatar fornecedores, esclarecer dúvidas, projetar resultados. Ninguém tá com pressa mesmo.

Assunto: Lips 2 (Just Fucking Destroy It)

 

 

Eduardo Ramos
       

       

      Sat, Jul 30, 2:12 PM (6 days ago)

to me

Cara… esta é uma das mais complexas. 

 

A versão da fita (e do clip) é a definitiva.

 

Trabalho de redução aqui. 

 

 

Lips 2 (Sonic Reduction).mp3

 

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 30, 2022, 6:27 PM (6 days ago)
to Eduardo

Não tem uma guitarra distorcida no solo? Tem mais umas coisas que eu pensei mas vou ouvir mais vezes.

Resolveu um monte de coisa, mas você tem razão, essa é a mais difícil.
Acho que nessa podia abrir uma exceção a sua regra dos efeitos e carregar o efeito que for preciso pra melhorar essa voz. Eu gravei mal.

A guitarra do solo acho que entra vazando na segunda parte… Vou ouvir mais, depois falo mais. É a mais difícil. Mas ficou ótima de todo jeito.
Dá pra ir ajustando eu acho.

 

 

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Sat, Jul 30, 6:54 PM (6 days ago)
to Eduardo

Que entra vazando a guitarra que eu quis dizer é que ela ficaria ressoando por mais um tempo.

 

Essa eu acho inclusive que podia fazer uma intervenção radical: tipo pegar o segundo “I really wanna kiss you” copiar e colar por cima do primeiro.
Ou algo nesse sentido. O vocal de entrada tá titubeante. Se eu soubesse, se tivesse como fazer isso na época eu teria feito.

 

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 31, 2022, 4:20 AM (5 days ago)
to Eduardo

Nessa eu acho que podia ignorar qualquer pudor, qualquer regra.

Acho que talvez valha a pena dar uma editada e usar efeitos mais ousados.
Mas aceito o que você decidir. Em tudo. Só tô falando porque pode ser que coincida com algo que você tenha pensado, ou vislumbrado.

No solo a guitarra que manda é a distorcida. Essas limpas eu gravei meio que de bobeira, mas pode deixar, que tão boas. Mas tem que ter a distorcida. Ela entra tipo Dinosaur jr., é um solo né, na cara mesmo. Tô achando que você pode ter esquecido de soltar esse canal. 

 

Eduardo Ramos
Sun, Jul 31, 10:56 AM (5 days ago)
to me

acho que estava faltando o “fucking destroy it” da sua parte

 

https://www.youtube.com/watch?v=26hgy4mQVdE

 

 

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 31, 2022, 11:28 AM (5 days ago)
to Eduardo

Kkkkkkk não conhecia isso Kkkkkkkk

 

Eduardo Ramos
Sun, Jul 31, 11:30 AM (5 days ago)
to me

este é o meu lema de vida

 

hoje em dia o Andrew Weatherall está muito acima do Bobby Gillespe na minha religião

 

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 31, 2022, 12:10 PM (5 days ago)
to Eduardo

Hehehe Muito bom isso

 

 

Eduardo Ramos
Sun, Jul 31, 11:03 AM (5 days ago)
to me

 

Lips 2 (Just Fucking Destroy it).mp3

 


Eduardo Ramos
Jul 31, 2022, 11:39 AM (5 days ago)
to me

 

mas ainda tem algo ainda faltando no começo.

 

 

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
 

 

Jul 31, 2022, 11:51 AM (5 days ago)

to Eduardo

tá bem melhor. 

sim, o começo ainda tem algo que pode ser feito.

vai vendo com mais calma

 

 

Assunto: Lista do que falta

Eduardo Ramos
Sat, Jul 30, 2:27 PM (6 days ago)

to me

1)Show
3)Junk
4)Sweet Little Darling
16)Underlights
# Little Puppets (perdi a primeira mixagem em uma pane do computador)

Ainda penso que Naturally Sad, esta versão com a bateria ainda é uma ideia, um bônus quem sabe.

Hoje escutei todas as prontas na sequência e está ridiculamente foda.

Em algumas semanas consigo finalizar esta passada inicial e atacar alguns pontos, escutar suas opiniões. Mas apesar de ser o mesmo disco, é outro álbum. Não melhor, não pior (vai ter gente falando isso, eu mesmo falei isso internamente algumas vezes) mas sim o resultado de um exorcismo (não de uma exumação). Exorcismo da cena, de coisas que todos passamos, de quem foi, de quem fica, de quem mudou de país, de quem não se considera mais indie, de quem vendeu as guitarras para comprar toca discos, de quem se vendeu… good or bad, happy or sad.

Foda.

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 30, 2022, 5:30 PM (6 days ago)

to Eduardo

exatamente isso.

faltam ainda lautréamont, não aparece aí?

e vendetta, que é só o solo de lips2

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 30, 2022, 11:32 PM (6 days ago)

to Eduardo

Mas apesar de ser o mesmo disco, é outro álbum. Não melhor, não pior (vai ter gente falando isso, eu mesmo falei isso internamente algumas vezes) mas sim o resultado de um exorcismo (não de uma exumação). Exorcismo da cena, de coisas que todos passamos, de quem foi, de quem fica, de de quem mudou de país, de quem não se considera mais indie, de quem vendeu as guitarras para comprar toca discos, de quem se vendeu… good or bad, happy or sad.

Sobre isso aí em cima foi que eu disse que é exatamente isso.
E diria mais, se me permite.

Como eu também disse num dos textos do blog: Revirar o passado não é para os fracos de coração.

Essa experiência toda não tem sido algo trivial. Quem imaginaria que essa história poderia, nem digo terminar assim, porque como temos visto, parece que nunca acaba, mas quem poderia imaginar que essa história teria esse desdobramento?

Concordo contigo. É ainda como se fosse um expurgo, o fim de uma purgação, o desfazimento de um nó.
E tá sim muitíssimo foda.

Poucos detalhes que a gente vai ajustar com muita facilidade, tenho certeza.

Eduardo Ramos
Sun, Jul 31, 10:59 AM (5 days ago)

to me

lautréamont está lá.

verdade

vendetta é um pedaço separado de lips 2? tem um fim de you gonna make a movie (aquela jam continua), mas não é bom?

outra coisa, aquelas duas músicas do Don’t Be Afraid My Son, elas são parte (conceitual) deste momento?

Eduardo Ramos
Jul 31, 2022, 11:00 AM (5 days ago)

to me

aliás, afirmo… não é bom a continuação de you gonna make a movie. coloquei o ponto errado.

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 31, 2022, 11:46 AM (5 days ago)

to Eduardo

vendetta é uma gravação separada de lips 2. é a mesma coisa que lips 2, só a parte do solo e mais curta.
é uma vinheta. na minha ideia original terminaria o disco com ela. é pra ela tá separada.

as músicas do don’t be afraid são de 96, foram gravadas em 96. elas tão nessa fita também?
essas nunca fizeram parte do bingo na real, nem em pensamento.

já lautréamont e vendetta faziam parte conceitualmente. assim como folk song e little puppets

o que me incomodou mesmo em you gonna make a movie foi só aquele u-hu extended. acho que deviam ficar só as guitarras solando, o teclado, etc., depois de 1:41.

mas sem brincadeira, tá tudo incrível de bom, eu ouvi no fone e puta que o pariu.
acho até que você deveria prosseguir ignorando o que eu falei e a gente tenta ver esses detalhezinhos numa revisão final antes de mandar masterizar.

Eduardo Ramos
Jul 31, 2022, 11:48 AM (5 days ago)

to me

eu estou escutando You Gonna Make a Movie

e acho que tem um meio termo no u-hu… vou achar ele

é que o final das guitarras tá um mega teenage descontrolado / superchunk (que algo me diz que nunca foi sua pira)

Eduardo Ramos

Sun, Jul 31, 11:49 AM (5 days ago)

to me

não. estas do don’t be afraid não estão na fita.

perguntei só de curiosidade mesmo.

Eduardo Ramos
Sun, Jul 31, 11:50 AM (5 days ago)

to me

quando possível (mas sem correria, eu realmente acho que termino esta primeira passada logo), me manda a ordem completa como seria o disco na sua cabeça.

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Sun, Jul 31, 11:54 AM (5 days ago)

to Eduardo

acho que pode ver como fica esse lance descontrolado. de repente rola.
já vou te mandar a lista. daqui a pouquinho.

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 31, 2022, 12:42 PM (5 days ago)

to Eduardo

pensei aqui e acho o seguinte. acho que tem que manter a ordem original.
as faixas extras vêm depois nessa ordem:

lautréamont
little puppets
folk song
vendetta

Assunto: Fico Imaginando

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 19, 2022, 11:24 AM

to Eduardo

Essas músicas depois da masterização.
Se já tá gigante agora, imagina?

Cara, você não tem ideia da alegria que você me proporcionou.
Jamais vou ter como te agradecer. É como se eu estivesse num parque de diversões onde os brinquedos são descargas cavalares de dopamina. Acho que descrevi o melhor possível.

Obrigado.

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 19, 2022, 11:35 AM

to Eduardo

Outra coisa, não se preocupa muito com nada não.
Porque tá tudo foda demais.
Dá uma mexida considerando aquilo que a gente já conversou, mas não esquente a cabeça.

Me dei conta do que tá acontecendo e é que eu tô automaticamente comparando com a versão que eu já tenho memorizada.
Agora eu tô ouvindo desconsiderando que existe outra mixagem. Aí a percepção é totalmente outra.

Eduardo Ramos
Jul 21, 2022, 6:38 AM

to me

ehehe bom demais

eu estou totalmente guiado por vozes neste lance. só estou conduzindo a máquina na verdade.

mas estou feliz, na verdade fico o tempo todo pensando em como foi esta gravação. eu criei algumas regras para a mixagem: não posso usar nada que não foi gravado nas sessões e não posso usar nada além de reverb / delay (ambos simples).

ainda tem um chão da mix, acertar alguns detalhes.

mas eu estou ultra animado.

Marcelo Colares <marcelocolares@gmail.com>
Jul 21, 2022, 9:09 AM

to Eduardo

beleza! confio nas vozes.