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2019 EM 50 DISCOS, segundo a Sereno

POSTADO EM 26/12/2019
Por Victor e Vinícius Damazio

A história da música independente é de construção de sociabilidade no precário. Mas, em retrospecto, esta talvez seja a última década que a parte independente da música independente exista como entendemos até então.

E por que falar de tudo isso agora? Porque essas tensões tiveram resultado direto em nossa relação de favoritos desse ano. Para os não iniciados, fechar o ano com uma lista de melhores discos é um costume que mantemos desde o início da Sereno, algo que já fazíamos informalmente antes do início da banda.

Em comparação com as edições anteriores, não é coincidência que o número de álbuns de metal, uma cena mais sólida e autossustentável, cresceu consideravelmente, enquanto artistas de rock alternativo ou bandas de hardcore viram o abismo aumentar.

Com a consolidação dos serviços de streaming, nunca se viu uma disputa tão desequilibrada pelo poder de distribuição. “Spotify pushes an Uber-like model for independent artists”, cravou a jornalista Liz Pelly em Unfree Agents, um dos seus artigos sobre música e internet para o The Baffler.

Mas não é só isso. A gentrificação das cidades e a tentativa do poder público de disciplinar a rua torna a existência de espaços DIY um embate constante. O Pitchfork foi vendido para a Condé Nast, seus principais competidores faliram ou seguiram o mesmo caminho. A tradicional rede de blogs praticamente desapareceu.

Corta para 2019: onde você estava quando ouviu a notícia de que a Maximum Rocknroll encerraria sua publicação impressa? O e-mail bateu na nossa caixa no fim da tarde de 13 de janeiro e dar adeus a revista foi como a morte de um ente querido.

Para a Sereno, a edição #431, a penúltima, foi especialmente agridoce: o nosso segundo EP, Desapegos e Previsões de Morte, ganhou uma resenha elogiosa do Greg Harvester (do The Grumpies, Neon Piss e Silent Era) no meio de um monte de discos de hardcore. Foi a segunda vez que a banda apareceu na publicação. Somente na MRR dois fodidos de São Gonçalo receberiam essa atenção.

Mas, chega de enrolação e vamos ao que interessa: reunimos para o DATABASE.FM os discos dos últimos doze meses que trilharam a vida da Sereno. Tentamos fazer a lista da maneira mais didática possível, já que lançar um monte de nomes sem dar nenhuma descrição é inútil.

Claro que música não é campeonato de tênis, para ter ranking. Mas acreditamos que uma hipotética lista dos grandes discos desse ano não poderia deixar esses daqui de fora. A relação está numa vaga ordem decrescente de preferência: começando pelos queridos do coração, e seguindo por menos ouvidos, mas não menos amados. Esperamos que encontre algo para você!


The Flying Luttenbachers – Shattered Dimension
(ugEXPLODE)
Nova Iorque, EUA l Brutal prog, free jazz
Para fãs de: Albert Ayler, Last Exit

Herdando quase a mesma formação da CP Unit, a volta da banda liderada pelo incansável Weasel Walter encaixa-se perfeitamente entre as duas facetas que permeiam sua discografia: o prog matemático e o free jazz violento. Nos melhores momentos, voam um milhão de notas por minuto e tudo se agrupa perfeitamente. Um clássico.

Ouças nossas favoritas: “Epitaph”, “Goosesteppin’”, “Mutation”


Quayde LaHuë – Love Out of Darkness
(Adult Fantasy Records)
Washington, EUA l NWOBHM, FFOBR
Para fãs de: Thin Lizzy, Acid

Anestesia, cerveja, matemática, roda. Todas as invenções da humanidade perdem importância quando se pensa em como era a vida nas grandes cidades antes dos solos de guitarra em dobra. A descoberta foi um ponto de inflexão na história humana, causando desdobramentos notáveis até os dias atuais, como constatado em Love Out of Darkness. E olha que nem falei dos vocais! Ah, esses vocais…

Ouça nossas favoritas: “Give Me Your Love (Don’t Take Mine)”, “Before the Storm”, “Right To Rock”


Carly Rae Jepsen – Dedicated
(Interscope)
Colúmbia Britânica, Canadá l Dance-pop, synthpop
Para fãs de: CHVRCHES, gay Twitter

Em E-MO-TION, de 2015, Carly Rae Jepsen provou o quanto havia em sua música além dos pastiches açucarados, leia-se “Call Me Maybe”, ao expandir as fronteiras entre o pop igualmente alegre e introspectivo. Ela dá um novo salto a frente com Dedicated, esbanjando atino pop em um disco mais maduro, sem perder as peculiaridades que fizeram todo mundo se apaixonar quatro anos atrás.

Ouça nossas favoritas: “Party For One”, “Too Much”, “Now That I Found You”


Weatherday – Come In
(Porcelain Music)
Suécia l emo, indie rock
Para fãs de: The Microphones, teen suicide

Melodias chiclete, gravação lo-fi distorcida, canções formadas por cinco partes diferentes, choradeira emo: “Come In” soa como um .zip de várias influências excelentes, sem que nada pareça fora do lugar. é juvenil na medida certa. Urgente, gritado e desajeitado.

Ouça nossas favoritas: “Come In”, “Mio, min Mio”, “Older than Before”


Candlemass – The Door to Doom
(Napalm Records)
Estocolmo, Suécia l Doom metal
Para fãs de: Black Sabbath, Dio

Tenho medo de bandas velhas que se reúnem para fazer discos novos. Normalmente, é sinal de abacaxi. Estava especialmente receoso com esse disco novo do Candlemass, até porque todos os sinais indicavam uma tragédia: uma retomada ao passado, a autorreferência na capa, a volta do vocalista Johan Längqvist após décadas de aposentadoria. Mas, que surpresa, The Door to Doom é muito, mas muito bom. Fiquei muito impressionado com o clima bombástico das músicas e voz de Johan, que baixou o espírito do Ronnie James Dio. Alguém pode trazer essa banda para o Brasil?

Ouça nossas favoritas: “Under the Ocean”, “Astorolus – the Great Octopus”, “Bridge of the Blind”


Phantasia – Demo, 2019
(n/a)
Nova Iorque, EUA l New wave, post-punk
Para fãs de: The Cure, Strawberry Switchblade

Certamente a banda nova-iorquina mais inglesa a surgir em 2019, o Phantasia evoca aquela aura lúgubre britânica com guitarras jangle e teclados atmosférico, sempre desafiando o equilíbrio entre o pós-punk e o gótico. Para fantasiar o que seria do Strawberry Switchblade se tivessem continuado como um quarteto. Ou um mundo onde Robert Smith fosse feliz.

Ouça nossas favoritas: “Neck of the Woods”, “Rotten”, Lullaby”


Subversive Rite – Songs for the End Times
(Bloody Master Records)
Nova Iorque, EUA l Hardcore, d-beat
Para fãs de: Sacrilege, Vice Squad

Após uma série de demos em fitas cassete, o Subversive Rite finalmente chega ao seu álbum de estreia. A receita para o caos sonoro continua a mesma – um cruzamento de punk oitentista com metal que deve muito aos primeiros anos do Sacrilege –, mas a gravação está ainda mais suja e encharcada em reverb.

Ouça nossas favoritas: “I Don’t Believe”, “System Child”, “Big Brother”


LINGUA IGNOTA – CALIGULA
(Profound Lore Records)
Rhode Island, EUA l industrial, neoclassical darkwave
Para fãs de: Pharmakon, Anna Von Hausswolff

Não há outra forma de explicar o que Kristin Hayter produz em CALIGULA senão como a própria definição do objeto sublime na tradição estética kantiana, isto é, aquele que consegue nos demonstrar como somos frágeis fisicamente frente a ele o suficiente para que possamos ter prazer com o reconhecimento de nossa existência suprassensível.

Ouça nossas favoritas: “DO YOU DOUBT ME TRAITOR”, “IF THE POISON WON’T TAKE YOU MY DOGS WILL”, “FUCKING DEATHDEALER”


Weyes Blood – Titanic Rising
(Sub Pop)
Califórnia, EUA l Baroque pop, art pop
Para fãs de: Brian Eno, Van Dyke Parks

Em tempos de grandes instabilidades e sensação iminente de caos, o quarto é o único espaço que resta para o subconsciente reinar livre. Como a arte de capa sugere, Titanic Rising é um mergulho no arcabouço musical e pensamentos mais íntimos de Natalie Mering. Bedroom pop elevado ao estado de arte.

Ouça nossas favoritas: “Movies”, “Andromeda”, “A Lot’s Gonna Change”


Lim Kim – GENERASIAN
(n/a)
Seul, Coreia do Sul l experimental hip hop
Para fãs de: DJ Shadow, Death Grips

O lançamento de GENERASIAN foi um susto para todos. Entre 2013 e 2015, Lim Kim era só mais um rostinho bonito na indústria do k-pop, com lançamentos que nunca foram além dessa bolha como um BTS ou um BLACKPINK conseguem atualmente. Desde então, ela desapareceu, abandonou a indústria, juntou dinheiro através de crowdfunding para um lançamento independente e voltou fazendo um som completamente diferente: algo como um hip-hop mastigado e desconstruído, com beats inovadores e uma versatilidade incrível da sua voz. Nas letras, versos que clamam por uma revolução feminista asiática. Fica aqui a esperança de que Lim Kim seja a primeira de muitas outras.

Ouça nossas favoritas: ”YELLOW”, “MONG”


BaraNambu – Fuzz, Kōsen, Hana
(Eyeliner)
Tóquio, Japão l Psych rock
Para fãs de: YBO2, ASYLUM

Masashi Kitamura morreu há mais de 13 anos, mas sua influência continua a dar frutos. O mais novo de seus pupilos é o BaraNambu, liderado pelo ex-guitarrista do YBO2 e Differance, Fujii Masahide. A exemplo de tudo o que Kitamura fez, as gravações misturam rock psicodélico com vocais dramáticos e atormentados. Boa surpresa.

Ouça nossas favoritas: “Kodoku no sōzō”, “MARIA KANARIA”, “Gogatsu no Sai”


Angel Witch – Angel of Light
(Metal Blade)
Londres, Reino Unido l NWOBHM
Para fãs de: Judas Priest, Thin Lizzy

Em tempos de “desktop metal”, chega a ser um alívio ouvir um novo álbum que soe cru e bruto, como este do Angel Witch – apenas o quinto disco numa carreira que, entre muitos hiatos e mudanças de formação, estende-se desde 1978. Não se engane, Angel of Light é o mais perto que Kevin Heybourne chegou ao nível de excelência do debut, considerado uma obra-prima da NWOBHM.

Ouça nossas favoritas: “Don’t Turn Your Back”, “Death From Andromeda”, “The Night is Calling”


Satoko Shibata – SATOKO SHIBATA TOUR 2019 ”GANBARE! MELODY” FINAL at LIQUIDROOM
(P-VINE)
Kanagawa, Japão l Folk, indie pop
Para fãs de: Tenniscoats, Tomoe Takizawa

A partir da transição do rock de arena para os anos de MTV, o rito de lançar álbuns ao vivo tornou-se uma tradição morta e vazia do passado. Satoko retoma esse formato para o que ele pode oferecer de melhor: uma oportunidade ideal para explorar as arestas aparadas pelo perfeccionismo do estúdio e resgatar faixas menos óbvias. Visto que seus discos têm ficado cada vez mais sofisticados, serve até para matar a saudade dos anos lo-fi.

Ouça nossas favoritas: “Joyful, Komeri, Homac”, “Kōkai”, “Asonde Kurashite”


la scène rashin – Ten no Sekido
(Cadmus Tape)
Tóquio, Japão l Slowcore
Para fãs de: Katsurei, Galaxie 500

Um novo projeto com a participação do papa do metal barulhento, Atsuo (do Boris), só poderia resultar num disco pesado e agressivo, certo? Errado. “Ten no Sekido”, estreia do la scène rashin, investe numa sonoridade mais delicada, com guitarras criando camadas de sons atmosféricos e viajandões. Tecnicamente, o disco é do passado, mas a Cadmus Tape teve a ótima ideia de lançá-lo em K7 em 2019.

Ouça nossas favoritas: “Ten no Sekido”, “Yoru no Roku”, “The 18th Day”


Disq – Communication b/w Parallel
(Saddle Creek)
Wisconsin, EUA l indie rock, power pop
Para fãs de: Superdrag

Sem dúvidas, “Communication” concorre com favoritismo ao posto de single do ano só pelo riff da introdução. A dupla promete que esse lançamento é como um reboot pro Disq, após um álbum de estreia derivativo de Tame Impala e psych-pop não muito inventivo. A reabilitação parece ter sido um sucesso.

Ouça nossas favoritas: “Communication”, “Parallel”


Glenn Branca – The Third Ascension
(System Neutralizers)
Nova Iorque, EUA l Totalism, no wave
Para fãs de: Swans, Sonic Youth

Gravado durante um show em 2016 no The Kitchen, em Nova Iorque, The Third Ascension é um encerramento honroso para a carreira de um dos compositores mais niilistas que agraciaram a música moderna. Quatro guitarristas, um baterista e um baixista produzindo o que há de mais brutal, frio e monolítico. 64 minutos e 34 segundos de puro medo. Se você já se perguntou como soa um buraco negro, talvez seja algo parecido com isso aqui.

Ouça nossas favoritas: “Cold Thing (La belle dame sans merci)”, “Lesson No. 4”, “German Expressionism”


Smoulder – Times of Obscene Evil and Daring
(Cruz del Sur)
Ontario, Canadá l Epic doom metal
Para fãs de: Manilla Road, Cirith Ungol

Existem dois tipos de bandas inspiradas pelo Black Sabbath: aquelas que chaparam com os múrmuros do Ozzy em “Sweet Leaf”; e os convertidos às profecias épicas do Dio em “Heaven and Hell”. Homenageando autores fantásticos como Michael Moorcock, Robert E. Howard e Catherine Lucille Moore, o Smoulder pertence ao segundo grupo. A trilha sonora perfeita para tirar a sorte rolando dados numa partida de D&D.

Ouças nossas favoritas: “The Sword Woman”, “Ilian of Garathorm”, “Black God’s Kiss”


DUMP HIM – Dykes to Watch Out For
(Musical Fanzine Records)
Massachusetts, EUA l pop punk, queercore
Para fãs de: RVIVR, Dyke Drama

O pop punk é uma instituição que nunca falha em entregar ao menos um álbum bom por ano, e em 2019 foi a vez do DUMP HIM cumprir a profecia. Elas até apelaram um pouco, diria: a melodia de “Don’t Kiss Me, I’m in Training” é a mesma de “I’m Serious, I’m Sorry”, do Jeff Rosenstock.

Ouça nossas favoritas: “Dykes to Watch Out For”, “Trash”, “What’s Yr Deal With Kim” 


Game – No One Wins
(Beach Impediment Records)
Londres, Reino Unido l Hardcore
Para fãs de: Arms Race, Tragedy

Com influências e membros que abrangem todo o universo do hardcore, tanto estilisticamente quanto geograficamente, o Game é um dos muitos nomes da chamada New Wave Of British Hardcore, mas eles têm um som mais distinguível e pessoal. Indicado para quem não tem medo de guitarras metálicas.

Ouça nossas favoritas: “Trwoga”, “Judges”, “Chimera”


Unbelievable Things – Queda de Avião b/w Não Me Arrependo
(Nap Nap Records)
Curitiba, Brasil l indie rock
Para fãs de: Sebadoh, Cloud Nothings

Enquanto não sai o álbum cheio da UT, só resta ouvir essas duas em loop no Winamp. Recomendação absoluta pra quem sempre encontra formas de driblar o chefe pra poder sair do trampo mais cedo na sexta-feira. Ou pra quem sempre tá correndo atrás de mais indie rock noventista pra ouvir nas horas vagas.

Ouça nossas favoritas: “Queda de Avião”, “Não Me Arrependo”


Chevalier – Destiny Calls
(Cruz del Sur)
Uusimaa, Finlândia l Speed metal
Para fãs de: Titan, Sortilège

Um aspecto que chama a atenção no primeiro álbum do Chevalier é a qualidade quase mística da produção. É tudo tão cru, ainda sem soar tosco, que as canções ganham um ritmo ofegante que casa perfeitamente com o tom épico dos arranjos. Tudo isso é auxiliado pelo estilo vocal distinto de Emma Grönqvist, mais para Grace Slick do que Leather Leone ou Ann Boleyn.

Ouça nossas favoritas: “The Immurement”, “The Curse of the Dead Star”, “Stormbringer”


Runemagick – Into Desolate Realms
(HR Records)
Västra Götaland, Suécia l Death doom metal
Para fãs de: Hooded Menace, Necros Christos

Algo como um cruzamento entre o Electric Wizard e o Bolt Thrower, o Runemagick vem da Suécia e faz um death metal com guitarras pesadíssimas, vocais cavernosos e ritmos arrastados. Mas aqui não tem só ódio e morbidez: também tem momentos psicodélicos e nuances inesperadas formando uma parede densa de sons lisérgicos. Um pesadelo delirante.

Ouça nossas favoritas: “Wolves of Nocturnal Light (The Moon Is the Portal to Death Part II)”, “In the Sign of the Dragon Star”, “Into Desolate Realms”


Jeff Rosenstock – Thanks, Sorry!
(Quote Unquote Records)
Nova Iorque, EUA l indie rock, pop punk
Para fãs de: PUP, Joyce Manor

E, falando nele, o moreno não decepcionou nesse ano. Quem cresceu ouvindo o Alive do Kiss e o Exit… Stage Left do Rush sabe o quanto um álbum ao vivo bem feito pode ser o que te convence de vez a gostar de uma banda, e Thanks, Sorry! é o mais novo desses bons exemplos. Com 29 faixas (!), é também a porta de entrada perfeita para quem ainda não conhece nada do Jeffinho.

Ouça nossas favoritas: “I’m Serious, I’m Sorry”, “Hall of Fame”, “Hey Allison!”


The Far Meadow – Foreign Land
(Bad Elephant Music)
Londres, Reino Unido l Prog rock
Para fãs de: Jadis, Magenta

Uma das descobertas que o Bandcamp me propiciou em 2019 foi o The Far Meadow. Estava à toa quando esbarrei com o play em “Travelogue”, e os vocais ao estilo Annie Haslam me chamaram a atenção. Como toda banda prog, a sonoridade imediatamente remete a algo do passado (ELP, Renaissance), mas as composições são muito, mas muito marcantes.

Ouça nossas favoritas: “Sulis Rise”, “Travelogue”, “Foreign Land”


Pentacle – Spectre of the Eight Rope
(Iron Pegasus)
Brabante do Norte, Holanda l Death metal
Para fãs de: Celtic Frost, Asphyx

Formado no fim dos anos 80, o Pentacle permanece como uma pérola escondida do death metal holandês. Produção primitiva, linhas de voz incompreensíveis e riffs mágicos herdados do Celtic Frost. Se a exibição técnica exagerada das bandas novas na cena te incomoda, Spectre of the Eight Rope foi feito para você. Don’t forget the ancient feeling… it still rules!

Ouça nossas favoritas: “Behold…Denial, Despair and Cruelty”, “The Fury of Retribution”, “Behold…Denial, Despair and Cruelty”


Witchtrial – Witchtrial
(Beach Impediment Records)
Washington, D.C., EUA l Speed metal, d-beat
Para fãs de: Motörhead, Venom

Todos os membros do Witchtrial são egressos da cena hardcore da Costa Leste: Red Death de Washington, Firewalker de Boston e Ajax de Nova Iorque. Mas, os americanos praticam a versão mais rudimentar possível do speed metal, onde o modus operandi da bateria não vai muito além do tupa-tupa. Indicado para quem furou os discos de Venom de tanto ouvir.

Ouça nossas favoritas: “Wait for the Reaper”, “Into the Morbid”, “Hooves, Horns & Hell”


Mayhem – Daemon
(Century Media)
Oslo, Noruega l Black metal
Para fãs de: Mayhem

Seria ingênuo esperar que o sexto álbum do Mayhem retomasse a sonoridade do clássico De Mysteriis Dom Sathanas, mas a banda não soa tão direta há muito tempo. Daemon ainda mantém muito do ethos angular que definiu os últimos lançamentos, mas o combina com uma abordagem mais objetiva, evocando os anos de Wolf’s Lair Abyss. Recomendado para iniciados.

Ouça nossas favoritas: “Agenda Ignis”, “Daemon Spawn”, “Worthless Abominations Destroyed”


Mortiferum – Disgorged From Psychotic Depths
(Profound Lore)
Washington, EUA l Death doom metal
Para fãs de: dISEMBOWELMENT, Disma

Talvez a produção mais bem-feita num disco de death metal oldschool dos últimos anos, soando tanto estrondosa quanto subterrânea, a estreia do Mortiferum merecia toda a atenção que o Tomb Mold ou o Blood Incantation receberam. Vocais pútridos, riffs cavernosos, arte de capa nojenta. Disgorged From Psychotic Depths é uma joia da podridão.

Ouça nossas favoritas: “Putrid Ascension”, “Inhuman Effigy”, “Funereal Hallucinations”


Sass –  Chew Toy
(Heavy Meadow Records)
Minnesota, EUA l indie rock, grunge
Para fãs de: Remember Sports, Bikini Kill

Desde as guitarras post-punk de “Nice Things” que abrem o disco, passando pela linha de baixo à la Krist Novoselic em “Gut Feeling” e a baladinha em 3/4 que dá nome ao álbum em seguida, o Sass cobre muito território em Chew Toy. E a harmonia entre isso tudo fica na conta da voz e das letras da Stephanie Murck, que projeta a banda para um nível mais alto.

Ouça nossas favoritas: “Freshwater Pearls”, “Gut Feeling”, “Chew Toy”


Galneryus – Into the Purgatory
(Warner Japan)
Osaka, Japão l Power metal
Para fãs de: Ark Storm, Crimson Glory

Diferentemente dos lançamentos recentes em que o Galneryus tentava combinar, de maneira forçada, o bombardeio sinfônico com uma atmosfera mais obscura, Into the Purgatory se mantém mais conciso, ainda que esporadicamente excêntrico. Entre solos velozes e pirotecnias nos teclados, a banda oferece seu melhor álbum em anos, que, de quebra, é o mais pesado de toda a carreira.

Ouça nossas favoritas: “The Followers”, “My Hope Is Gone”, “The End of the Line”


Anna Roxanne – ~~~
(Leaving Records)
Califórnia, EUA l Ambient, field recordings
Para fãs de: Stereolab, new age

Anna Roxanne faz um som calmo e atmosférico, influenciado pela música tradicional hindustani, o jazz espiritual de Alice Coltrane e os blips & blops da série ambient Environments (de Irv Teibel). No momento mais singelo do EP, “I’m Every Sparkly Woman”, ela transforma a versão de Whitney Houston para o hit “I’m Every Woman” de Chaka Kahn em uma meditação transcendental.

Ouça nossas favoritas: “It’s a Rainy Day on the Cosmic Shore”, “I’m Every Sparkly Woman”, “Nocturne”


Cudowne Lata – Kółko i krzyżyk
(Trzy szóstki)
Cracóvia, Polônia l Dream pop
Para fãs de: Sorja Morja, Beach House

Batizado com o título polonês da série de TV “Anos Incríveis”, o duo Cudowne Lata consiste no casal (na música e na vida) Ania Włodarczyk e Amina Dargham. A voz de Ania anteriormente coloriu, entre outros, o projeto dreampop Wilcze Jagody. Já a guitarra de Amina pode ser ouvida nos punks do Translola. Temperamentos musicais completamente diferentes que resultaram num álbum com pedigree incomum na cena indie pop.

Ouça nossas favoritas: “I koniec końców”, “Baśń”, “Zapach i ty”


Crypt Sermon – The Ruins of Fading Light
(Dark Descent Records)
Pensilvânia, EUA l Epic doom metal
Para fãs de: Solitude Aeturnus, Dawn of Winter

Muitos medalhões do doom metal, como Saint Vitus e Lord Vicar, ressurgiram do limbo para lançar discos em 2019. No entanto, os novatos Crpyt Sermon que mais conquistaram (e dividiram) o público e a crítica graças a sua receita majestosa para a vertente mais épica do gênero. A interpretação autoritária do vocalista Brook Wilson é o diferencial.

Ouça nossas favoritas: “Key of Solomon”, “Our Reverand’s Grave”, “The Ruins of Fading Light”


MORRIE – Hikaru Kōya
(Nowhere Music)
Hyōgo, Japão l Visual kei
Para fãs de: Merry, RENTRER EN SOI

Muita gente talentosa junta: Kiyoharu (KUROYUME), Sakito (Nightmare), Seiichirō Morikawa (Z.O.A), aki (Laputa), todo o Boris e mais. Barulheira sensacional. Mesmo não cantando nem a metade dos anos dourados de DEAD END, MORRIE merece os parabéns por ser o Robin Hood da cena alternativa: pega seus gordos cachês de grandes gravadoras e emprega todos os heróis do underground. Grande sujeito.

Ouça nossas favoritas: “Junketsu no shiro”, “Shinzui”, “Kasoke Meikyō”


Katsurei – Norenai R&R
(Grand Fish/Lab)
Aichi, Japão l Slowcore, psych rock
Para fãs de: Galaxie 500, YBO2

O termo “shoegaze” surgiu na imprensa musical inglesa para definir um grupo de bandas indie que gostava de microfonia e idolatrava o som barulhento, porém etéreo e lúdico. O Katsurei é quase contemporâneo a esses grupos, mas sua receita inclui a psicodelia do Pink Floyd e a delicadeza do folk japonês. Após uma década devagar, foram três lançamentos somente esse ano – os EPs LOVE? e LUCIFER no Kanashimi, e o álbum Norenai R&R.

Ouças nossas favoritas: “ACHILLES”, “Norenai R&R”, “ORANGE”


Kai – MOONLIGHT・Tokyo
(Trash Up!! Records)
Tóquio, Japão l Synthpop
Para fãs de: Chiemi Manabe, Tetsuto Yoshida

O selo Trash-Up!! Records continua sua missão de investir no que há de mais bizarro e cômico dentro da cena idol. Kai fez parte do trio THERE THERE THERES e agora volta com MOONLIGHT・Tokyo, o primeiro lançamento de sua carreira solo. O clipe lisérgico de “Himitsu no Tobira” envolve sequestro, um garoto cadeirante, cross-dressing e uma revista do Rocky: um Lutador. É ver para crer.

Ouça nossas favoritas: “Himitsu no Tobira”, “MOONLIGHT・Tokyo”, “Fushigi・Shōjo”


PAWNS – Monuments of Faith
(Inflammable Material)
Post-punk, deathrock
Para fãs de: Crass Records, Joy Division

Dark demais para ser punk, raivoso demais para ser gótico. O PAWNS encharcou os seus riffs em staccato com sangue, misturando canções pesadas e rápidas com um lado mais experimental, angular e dançante – lembrando vagamento o T.S.O.L. de Change Today? ou grupos como The Mob e Famous Imposters. Ao vivo parece ser ainda melhor.

Ouça nossas favoritas: “Shadows of Hiroshima”, “Monuments of Faith”, “Broken”


Octo Octa – Resonant Body
(T4T LUV NRG)
Nova Iorque, EUA l Breakbeat, deep house
Para fãs de: Orbital, Polygon Window

Com linhas de baixo gordurosas e sintetizadores pulsantes, Resonant Body da Octo Octa é o disco perfeito para te levantar da cama, empurrar de um quartinho no subúrbio e trilhar mais um dia de vida fodida. Cada faixa é uma aventura rítmica. Como pontuou perfeitamente uma resenha no Bandcamp, “this music makes you move!”.

Ouça nossas favoritas: “Can You See Me?”, “Power To The People”, “Deep Connections”


Young Guv – GUV I & II
(Run For Cover)
Ontario, Canadá l Power pop, jangle pop
Para fãs de: Teenage Fanclub, Felt

Talvez mais conhecido como integrante do grupo post-hardcore Fucked Up, Ben Cook é o ghost-writer por trás de hits enlatados do Sum 41 e Taylor Swift. Esse instinto pop é usado para o bem no projeto Young Guv: um indie rock bonito e empolgante, que deve tanto ao Byrds quanto ao Big Star.

Ouça nossas favoritas: “Every Flower I See”, “Patterns Prevail”, “Try Not to Hang On So Hard”


3776 – Saijiki
(Natural Make)
Shizuoka, Japão l art pop, experimental
Para fãs de: as trilhas da série de jogos Katamari, Philip Glass

O 3776 é um grupo idol de uma pessoa só: Chiyono Ide. Você pode perder horas e mais horas tentando entender o conceito por trás de Saijiki, que é em grande parte criação do produtor Akira Ishida, mas nada vai ser tão interessante quanto ouvir o próprio álbum e ser bombardeado com múltiplas camadas da voz de Ide, beats em tempos irregulares, sons de pássaro, referências ao Monte Fuji, e por aí vai…

Ouça nossas favoritas: “February”, “May”


Michael Schenker Fest – Revelation
(Nuclear Blast)
Baixa Saxônia, Alemanha l Hard rock, heavy metal
Para fãs de: UFO, Rainbow

A exemplo de muitos artistas extraordinários, Michael Schenker sempre teve uma personalidade forte e comportamento imprevisível. Seus últimos 30 anos foram marcados por brigas e farpas trocadas na imprensa, principalmente com o irmão rico Rudolf Schencker. Sentindo o peso da idade, resolveu juntar todos seus ex-colegas de MSG, para as novas gerações terem um gostinho de uma das bandas mais poderosas dos anos 80. Revelation é o segundo álbum dessa retomada. Metal básico, e classudo, sem firulas.

Ouça nossas favoritas: “Ascension”, “Still in the Fight”, “The Beast in the Shadows”


Clan dos Mortos Cicatriz – Febres Intermitentes
(Zoom Discos)
Curitiba, Brasil l hardcore
Para fãs de: THE STALIN, Tragedy

Uma dobradinha dos rapazes da Clan, que já figuraram na lista do ano passado. Febres Intermitentes foi o primeiro de dois lançamentos nesse ano, que ainda contou com um split com o Dor, igualmente excelente. Nesse meio tempo, nós testemunhamos a fúria ao vivo e filmamos dois shows da banda em fita VHS, uma vez aqui no Rio e outra lá em Joinville.

Ouça nossas favoritas: “TUMULTUS”, “Dentes Pretos”, “Fúrias”


Kaede – Shin’ya. Anata wa kyō o furikaeri, mata atarashī asada ne.
(T-Pallete Records)
Niigata, Japão l indie pop
Para fãs de: Sunny Day Service, tetrapletrap

Kaede (do Negicco) estreou sua carreira solo fazendo um som mais sóbrio e maduro, escudada por membros do Sunny Day Service, ZAZEN BOYS e advantage Lucy. Acho que integrantes de grupos idols passaram a entender que, para conseguirem mais liberdade artística, precisam sabotar o sistema de dentro dele: alcançar algum sucesso em grupos enlatados no mainstream, e então ganhar o aval para uma carreira solo. Sorte delas.

Ouça nossas favoritas: “Kaede no enkyori renai”, “Hika rakuyō”, “Cloud Nine”


Ares Kingdom – By the Light of Their Destruction
(Nuclear War Now! Productions)
Missouri, EUA l Death metal
Para fãs de: Order From Chaos, StarGazer

Faz mais de 20 anos que os ex-integrantes do Order From Chaos, Chuck Keller e Mike Miller, registraram sua primeira fita demo sob o nome Ares Kingdom. Traços musicais daqueles primeiros anos ainda são reconhecíveis nas músicas, mas a banda nunca soou tão feroz e denso quanto nesse álbum. Caos triunfante e indomado.

Ouças nossas favoritas: “Talls Chimera Est.”, “The Bones of All Men”, “Burn, Antares (Scorpius Diadem)”


Vidro – Allt Brinner
(Kink Records)
Estocolmo, Suécia l Hardcore
Para fãs de: Crisis, Tožibabe

Hardcore sueco feroz e sufocante, o Vidro mergulha o som característico das bandas escandinavas em camadas de flanger. A banda é sediada em Estocolmo, mas até um brasileiro completa a formação. Em vez de ler esse blá-blá-blá, assita o show que filmamos em VHS!

Ouça nossas favoritas: “Sista dagen på jorden”, “Samma skit”, Satan bor i mig”


Hulder – Embraced by Darkness Mysts
(Stygian Black Hand)
Oregon, EUA l Black metal
Para fãs de: Emperor, Darkthrone

Há pelo menos um ano, Marz Riesterer deixou o Bleeder, descendente do metal tosco à la Hellhammer, de lado para experimentações sonoras bem mais técnicas e extremas com o projeto Hulder. As duas músicas desse compacto não fariam feio perto dos clássicos da segunda onda do black metal. Quem fica parado é poste.

Ouça nossas favoritas: “Unholy Divine”, “Interring the Light”


Firewalker – The Roll Call
(Pop Wig)
Massachusetts, EUA l Hardcore
Para fãs de: Cro-Mags, Leeway

Em seu primeiro lançamento com a mesma formação do anterior, o Firewalker continua a refinar a mistura perfeita de hardcore brutal nova-iorquino, vocais de death metal e letras inflamadas. Não tão acelerado e furioso quanto o álbum de 2017 ou a fita cassete ALIVE, The Roll Call ainda conta com hinos rápidos o bastante para embalar rodas de pogo.

Ouça nossas favoritas: “The Roll Call”, “The Mystery”, “Spirits Roam”


Rose Dorn – Days You Were Leaving
(Bar/None Records)
Califórnia, EUA l indie rock, twee pop
Para fãs de: Girlpool, Snail Mail

Desde o ótimo Speak Later, seu EP de estreia em 2017, o Rose Dorn vem aperfeiçoando um som que poucos sabem fazer bem: aquela mistura lentinha de indie rock e folk, sempre com aquele pé no twee noventista. Os vocais da Scarlet Knight lembram algo do Girlpool depois de muito Xanax

Ouça nossas favoritas: ”Champ”, “Heaven Pt. 2”


Jackie Cohen – Zagg
(Spacebomb)
Califórnia, EUA l country rock, psych pop
Para fãs de: Dolly Parton, Mutantes

Seguindo a fórmula retrô do EP de duas partes Tacoma Night Terror, o novo álbum de Jackie Cohen consegue unir country e rock psicodélico no que poderia ser um lançamento esquecido do final dos anos 60. Dessa vez, Cohen ressurge escudada por diversos queridinhos da cena indie – Jonathan Rado do Foxygen, Matthew E. White, The Lemon Twigs.

Ouça nossas favoritas: “Keep Runner”, “Get Out”, “Chico Chico”


beabadoobee – Loveworm
(Dirty Hit)
Londres, Reino Unido l Dream pop
Para fãs de: Juliana Hatfield, Tanya Donelly

Cada teclado climático, cada acorde encharcado em reverb, parece cuidadosamente calculado para soar como uma gravação de quarto. Ironicamente, tudo foi gravado em um dos mais luxuosos estúdios de Londres, sob todas as regalias de grandes produções. Apesar de toda a artificialidade, os vocais desleixados e letras apaixonadas de Bea guardam alguns dos refrãos mais marcantes deste ano.

Ouça nossas favoritas: “Apple Cider”, “Ceilings”, “Disappear”


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