Greg Oblivian & The Tip-Tops: Head Shop

Greg Cartwright é um dos fundadores do Oblivians, trio do Tennessee que tocou o terror de 1993 a 1998. A sonoridade da banda dialogava com a cena garageira da época, representada por nomes como Jon Spencer, Thee Headcoatees, Demolition Doll Rods, entre outros que nem sempre compuseram tantos hits ou conseguiram ser tão contundentes em sua tentativa de devolver a simplicidade ao blues. Revezando-se nas guitarras, bateria e vocais, Greg, Erick e Jack Oblivian tinham um poder de síntese e sagacidade pop anteriormente vistos apenas nos Ramones.

Lançado em 1998 pela Sympathy For The Record Industry, Head Shop é o único registro solo de Greg. Ao primeiro contato, o disco sugere uma session com amigos levemente embriagados revisitando standards do cancioneiro norte-americano – impressão que permanece após repetidas audições, apesar das faixas serem de autoria do próprio Greg, com exceção de Beside You, um doo-wop dos Swallows. As oito músicas foram gravadas entre 96 e 98, com Greg tocando quase tudo, acompanhado por sua esposa Esther na bateria e três colegas contribuindo no sax, baixo e piano. A produção foi dividida com Jack Oblivian, que cuidou de três faixas.

Bem definido pelo Grunnen Rocks como “lofi garage balladas”, Head Shop tem uma produção orgânica e arranjos irretocáveis para canções que poderiam ter alcançado o topo das paradas na virada dos 60 para os 70, de modo que a sonoridade do disco remete ao que ficou conhecido como AM Pop – rótulo usado quando country, soul, folk e rock formavam uma coalizão que dominou as rádios. Sem pretensão, Greg fez uma síntese dos primórdios do pop americano mais bem-sucedida do que as empreitadas de Alex Chilton, que nos anos 80 enfurnou-se nos estúdios da Sum Records, e Frank Black, que costuma recrutar renomados músicos de estúdio dos anos 60 para as suas gravações solo.

Todo esse apelo radiofônico pode ser comprovado em Watching My Baby Get Ready, uma balada despojada que abre o disco evocando Archies e Roy Orbison – ou seja, um puta hit digno de ser incluído no repertório de todas as bandas de baile deste planeta. A estética e a temática são tão familiares que o ouvinte consegue deduzir tanto a melodia quanto a letra, que é basicamente o suspiro de um homem ao ver sua amada embelezar-se – situação mais comum no início dos relacionamentos, é verdade.

Outro ponto alto do disco, Twice as Deep está alinhada com a vibe deprê predominante nas demais faixas, apesar de conduzida por um órgão que mais parece teclado infantil. Precious One e Girl With the Glasses poderiam ser lados A e B de um single do Elvis na fase magra. The Man You Need é pura melancolia transformada numa pepita de um minuto e meio quase todo tomado por um choro de bandolim. A já citada Beside You perde os ares de jazz da versão original, de 1952, para soar como um Beach Boys minimalista.

Originalmente gravada pelos Oblivians, Bad Man ressurge tão intimista quanto uma canção de ninar. Um ano depois, a faixa também foi regravada pelo Detroit Cobras em seu debute, sendo a única contemporânea num tracklist que reunia clássicos dos anos 60, principalmente os de girl groups da Motown. Última faixa do disco, Self-indulgent Asshole é um noise desnecessário de 18 minutos que poderia ficar de fora quando Head Shop ganhar uma merecida reedição em 45 rotações.

Não há registros de shows dos Tip-Tops. Quando o disco foi lançado, seu mentor já estava envolvido em meia dúzia de outras bandas. Em 1999, três de suas faixas foram incluídas na trilha sonora de Wild Zero – filme trash japonês em que os integrantes do Guitar Wolf enfrentam uma invasão zumbi! Os Oblivians se reuniram em 2009 para um tour revivalista ao lado do Gories e voltaram às atividades regulares, lançando um álbum inédito em 2013. Enquanto isso, a Gonner Records, selo comandado por Eric Oblivian, apresentou ao mundo nomes relevantes da cena garage dos anos 00, como o falecido Jay Reatard e o inquieto Ty Segall – dois motivos mais que suficientes para continuar acompanhando os projetos relacionados aos Oblivians.


Resenha de Eduardo Bento.